Tenho minhas dúvidas sobre se a divulgação do vídeo de uma reunião do ministério do presidente Jair Bolsonaro em 22 de abril terá potencial para provocar o impeachment do capitão, por mais que tenham sido evidenciadas posturas não republicanas na gestão. Aquela do ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, de que a pandemia do coroavírus é ocasião propícia para que o governo faça passar a “boiada” de alguns marcos regulatórios, dando a entender que seriam marcos ilegais, ajudou na síntese de como opera a equipe que atende à voz de comando do capitão. A amostra do ‘convescote’ ministerial serviu para expor uma equipe medíocre, na média, e tão despreparada quanto o chefe.
Por amor à verdade inclua-se no rol da média medíocre do ministério o então titular da Justiça e da Segurança, Sergio Moro, que, como todos sabem, era o mais interessado em publicizar o conteúdo e as imagens do vídeo, na expectativa de anabolizar um processo de impedimento do seu ex-chefe. Moro saiu da Pasta da Justiça devendo uma atuação que fosse positiva para a sua biografia. É inegável que foi sabotado inúmeras vezes pelo próprio Bolsonaro, quando não atendia ao interesse deste de saber o roteiro de investigações que, presumivelmente, envolviam filhos seus ou amigos da curriola do poder instalada a partir da vitória do capitão nas urnas em 2018. Mas Moro não foi a “revelação” que se esperava que fosse deslanchar.
Tanto é assim que a lembrança marcante que fica da sua fotografia é fora do 3 X 4 do poder; está situada na atuação intimorata do juiz da Décima Terceira Vara Federal de Curitiba, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato e mentor de sentenças condenatórias que alcançaram figuras ilustres como o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, derrubando o conceito de que há pessoas acima da Lei no Brasil. Moro foi corajoso e percuciente na Lava Jato – e foi por causa disso que ganhou notoriedade nacional e internacional, a ponto de ser recrutado por Bolsonaro para ocupar a Pasta da Justiça, com a insinuação deixada no ar de que seria uma Super-Pasta. Ele, por via de consequência, iria virar super-ministro. Não foi o que aconteceu, como já sabemos. Moro não deixou grande legado, embora possa ter tido algumas ideias brilhantes que não foram postas em prática porque Bolsonaro não permitiu, temendo concorrência política.
Além de Moro, apostava-se que Paulo Guedes, da Economia, fosse se credenciar como um ministro notável à frente da Economia, por causa da sua formação intelectual que o projetava como um teórico respeitável na área. Guedes segue exercendo a Pasta sem nenhuma autonomia, cumprindo ordens expedidas por Bolsonaro, que de tudo quer entender, embora não entenda de nada. Surpreendeu, na decupagem da fita que veio a público por decisão do ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, a subserviência explícita de Paulo Guedes às ordens do capitão, deixando escapar um medo pânico de ser demitido do cargo. Uma lástima, em termos de comportamento. O outro ministro que fechava o tripé dos supostos “supers” de Bolsonaro era Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, que ganhou visibilidade na pandemia do coronavírus e por causa dela também se esfumaçou, estando hoje não se sabe exatamente por onde.
Não há ministros brilhantes no governo de Bolsonaro porque os auxiliares por ele recrutados constituem um núcleo mais carreirista do que profissional. Foram escolhidos a dedo por Bolsonaro porque o presidente conhece o grau de submissão de todos às suas ordens. A autonomia que lhes é dada situa-se numa franja ínfima de poder, que nem de longe chega a ameaçar os poderes do presidente, um adepto declarado de autogolpes, apologista de regimes fortes que, por óbvio, anulam a democracia. Para esta Bolsonaro não está preparado, nunca esteve, mas não faz questão que o rotulem assim ou “asssado”. Estando com o “pudê” nas mãos, está com tudo. É por isso que se esforça tanto em demonstrar que tem a caneta do poder, desdenhando o tempo todo dos pedidos de impeachment que se amontoam em gavetas do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.
Ministros como Abraham Weintraub, da Educação, Damares Alves, da Família, general Heleno, do GSI, e a tropa verde e oliva com que o presidente recheou pastas de primeiro e segundo escalões não podem e nem precisam ser eficientes, muito menos apresentar formulações brilhantes. Cumprindo as ordens do chefe, já se bastam. Afinal, a norma maior é o culto à personalidade, o que faz com que reuniões ministeriais presididas por Bolsonaro sirvam para bajular o ego do capitão e inflá-lo às profundezas da vaidade humana. Não é por acaso que na controversa reunião cujo teor vazou para a opinião pública o problema mais grave que afeta o Brasil, como de resto, o mundo, não tenha sido discutido – a pandemia do coronavírus. O governo de Bolsonaro não tem a menor ideia do que fazer para minimizar a curva da pandemia no Brasil. Este – acreditem – é o crime maior que lhe pode ser imputado, para além das picuinhas sobre jogo de poder que são travadas em plena calamidade no país.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba