UM RASTILHO DE SANGUE INCENDIÁRIO NA CORRIDA PRESIDENCIAL E O CONFRONTO JUSTO E INEVITÁVEL
POR GILVAN FREIRE
É uma ilusão achar-se que essas eleições devem ser obrigatoriamente pacíficas. Isso seria a negação da revolta coletiva que domina o ambiente social brasileiro hoje. Ou se acha justa a revolta do povo e se aceita a conformação como saída da crise pelo medo e pela covardia, ou se levanta o clamor público em forma de mobilização e luta eleitoral em defesa da restauração moral do país combalido pela criminalidade política.
O país não entrou em colapso sozinho nem suas ruínas são obras do acaso. Os que destruíram a moralidade pública e saquearam o patrimônio do Estado e por cima ainda querem anistia a seus crimes ou a impunidade e a imunidade como regras de conduta indecente, estão disputando as eleições e buscam, com desfarçatez nunca vista, a continuidade do poder e a perpetuidade dos desmandos, como se nada tivessem a ver com o desastre.
Tanto a criminalidade comum quanto a criminalidade política adquiriram estruturas poderosas de organização e sensibilização popular, com capacidade de enfrentar o aparato estatal e subjugar a sociedade. É impossível mudar essa realidade sem mexer com os fantasmas dos grandes líderes e sem desafiar o poder de combate que eles têm . Para enfrentar a revolução criminal é preciso fazer uma contrarrevolução, e sem destemor é zero a possibilidade.
Os criminosos comuns lideram as suas próprias comunidades e impõem até códigos de honra em defesa delas. Os delinquentes políticos aparelham o Estado como organismo poderoso e o colocam a serviço de partidos políticos e seus líderes, raspam os cofres públicos e se perpetuam no poder junto com a miséria do povo. E, diferentemente do banditismo comum, ainda se dão ao luxo de não ter código de honra nenhum. Honra, que honra ?
Em qualquer caso, há um grandioso mecanismo de formação de novos líderes e de militantes e subsidiamento material às suas bases de sustentação. Nas organizações criminosas comuns, são pagos aluguéis de moradores, água, luz e botijões de gás, afora outros socorros de emergência ( inclusive o sistema já impera em João Pessoa ). E nas organizações criminosas políticas há bolsas e programas sociais destinados a fabricar eleitores e escravizar o voto, além de emendas parlamentares para alimentar a intermediação e o desvio de verbas.
O surgimento de Bolsonaro, nessas circunstâncias, levando em consideração a sua capacidade de enfrentamento e o seu destemor, o magma que consegue formar em redor do grosso da opinião pública brasileira e a mobilização eleitoral que empreende, é o único fator diferencial das eleições deste ano.
Ele não é fruto de uma carreira política fulgurante, é produto de uma crise sem saídas convencionais – uma inconformação em massa, uma ira popular, uma falta de remédios e cura, uma desesperança ululante.
Bolsonaro não é líder, é anti-líder. Ele surge diante da falência dos líderes, do fracasso moral e ético de lideranças corrompidas por longa nefasta má gestão pública, e de um modelo esgotado de populismo de aproveitamentos, explorações e escravismos eleitorais. A relevância não está no que ele pensa, mas no que ele pensa em contrário ao pensamento dominante. Não é o ponto, é o contraponto.
O homem virou mito contra mito. Ou seja, é o lado contrário do estabelecido. É a segunda invenção contra primeira invenção, uma engenhosa arma que o povo usa para matar ou espantar deuses inventados pelas heresias de discípulos mal intencionados que se favoreceram das facilidades do paraíso pagão – os corriolas comparsas da criminalidade política reinante que ameaça resistir às mudanças.
O atentado a Bolsonaro, que objetivava a sua morte, representa uma facada ideológica em inimigo visceral, algo de agrado dos setores que estão sendo vencidos pela sua pregação confrontada , que passou a ser estuário do inconformismo social brasileiro contra uma esquerda pretensiosa, arrogante, diletante, moralmente arruinada, que não quer soltar o poder e ainda se julga detentora do monopólio de todas as verdades políticas no Brasil.
Não há uma grande tragédia no esfaqueamento de Bolsonaro, fato inteiramente previsível nesse cenário turbulento e tenso do período eleitoral. Ele passou a ser o inimigo de todos os que são parecidos ou parceiros das últimas refregas políticas das últimas décadas, dos que disfarçam lamentações e dos que nem disfarçam, vez que a sua candidatura ameaça a totalidade dos demais concorrentes assemelhados entre si.
O carrasco dos deuses políticos em estado de demolição está alvejado mas possivelmente aumentado no processo de deisificação popular. Todos têm mais medo dele ferido do que dele falando, até que o país esteja seguro de que não continuará sendo vítima das velhas aves de rapina.
Não é questão de disputa apenas, é questão de duelo entre mitos e heresias, e triunfo da vontade popular contra os manipuladores do voto. Feito isso na primeira etapa, o país respira e deixa de se assustar com fantasmas.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: gilvan freire