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Um novo jornalismo? Na era da internet o nascimento de novos profissionais e o surgimento dos chamados jornalistas de ocasião - Por Francisco Airton

O que define um bom jornalismo afinal? A pergunta nos chega no momento em que sentimos algo de novo no ar, quando uma verdadeira enxurrada de notícias enganosas e escorregadias (que não se sustentam pela absoluta falta de verdade), invadem os nossos rádios, aparelhos de TV e computadores! São as chamadas fake-news, palavra que sempre existiu, mas que virou modo usual por aqui. E quem são os responsáveis por dissipar as fakes? De repente cidadãos comuns, que jamais se imaginaram envolvidos com notícias, sem terem, sequer, desenvolvido um senso crítico que os habilitassem a tal, se deparam propalando informações e até discutindo o que se propuseram a informar (excluindo-se aqui aqueles que, mesmo não tendo a formação como profissional de imprensa, dedica-se a fazer um trabalho totalmente comprometido com a verdade). No caso dos repórteres de ocasião, estes acabam praticando o jornalismo a sua maneira sem a preocupação de ter de prestar contas a quem quer que seja! De certa forma, até rudimentar, as pessoas já exerciam o ofício de informar ao repassar as suas notícias pela vizinhança (pequenos ou enormes fuxicos), alimentando assim, colegas de calçada, como repórteres investigativos e da mesma forma fazendo surgir o seu próprio “jornalismo de opinião” (eu acho que… talvez seja… tenho certeza que…) e por ai segue!

Mas o que define um bom jornalismo afinal? A pergunta continuará buscando uma resposta concreta. A verdade é que muitos jornalistas forjaram a sua vida profissional na busca da verdade e no compromisso de formar opiniões com total seriedade! Outros nem tanto assim, e isso abriu flancos para que muitos apaixonados por notícia se arvorassem a fazer imprensa sem, no entanto, estarem preocupados se estão preparados ou não (repito, guardadas as devidas exceções) para exercerem essa função!

Os bons jornalistas continuam existindo, mas a flexibilização de normas que norteacam a profissão e o fácil acesso encontrado por todos – independentemente da formação de cada pessoa – com o advento da internet e por conseguinte das redes sociais, onde cada um domina o seu espaço como se fosse o seu terreiro, a sua casa, tornou-se comum fotografar ou filmar uma situação e opinar livremente sobre o que fotografou ou filmou, expondo sua opinião sem no entanto precisar se expor, e isso o encoraja a dizer o que pensa – o que necessariamente pode não corresponder a uma verdade, mas que será a sua verdade – e isso pode gerar consequências!

Dessa forma a internet é muito mais uma ferramenta incontrolável, a ponto de causar danos irreversíveis? Também não é bem assim! A rede pode ser muito mais benéfica, se levarmos em conta o seu poder de influência como veículo de informação e formação do cidadão, bastando que aqui, na superfície, tenha alguém preocupado em abastece-la com um bom conteúdo! Costumamos dizer que a internet é uma enorme janela para o mundo e que, após o seu surgimento e os avanços tecnológicos que chegam numa velocidade extraordinária, torna tudo mais transparente e nada mais ficará escondido e impune ao julgamento da humanidade! Mesmo que o fato, o crime ou sabe-se lá, possa escapar do que chamamos de justiça, este jamais passará despercebido aos olhos do mundo! Então o saldo passa a ser mais positivo visto por esse anglo!

E é justamente esse ponto que me faz voltar ao ponto anterior, onde uma nova forma de se fazer jornalismo chama a atenção pela facilidade em que qualquer internauta, com acesso a um smartphone potente ou mesmo um celular mais simples (bastando possuir câmera e gravador de áudio) poderá postar a sua informação de acordo com o seu ponto de vista, mas que isso não o torna um jornalista! Nesse ponto a tecnologia e suas ferramentas nesse fantástico mundo novo, podem tornarem-se ferramentas bastante perigosas!

Por tanto, o que difere um cidadão que tem um blog para publicar o que pensa, um canal no You Tube ou Instagram, de outro cidadão que tem as mesmas ferramentas e que procura dar a sua informação? A diferença estará no que, e na forma em que ele publica essas informações! Mesmo assim ainda estamos propensos a comprar gato por lebre, se levarmos em conta que, nesses casos, prevalecerá o ponto de vista desse novo jornalista, formado pelas redes sociais e, acima de tudo, pela vontade de querer expor o seu ponto de vista sobre determinado assunto!

É verdade quase absoluta que um bom jornalista, necessariamente, não precisa ter passado por um banco de universidade para passar verdades. Fica provado que para ser um bom jornalista é imperativo se ter bom senso, estar atualizado com os fatos, ter comprometimento com a verdade, no mínimo saber ler e escrever e estar sempre pronto a aprender! É também imperativo ter personalidade própria, não ser venal (o que, também, não significa que profissionais forjados em bancos de faculdades, não possam ser péssimos exemplos, caça-níqueis e que facilmente possam mudar sua opinião, bastando apenas seguir os ventos para onde estes estejam mudando). Dessa forma prefiro continuar acreditando que o bom jornalismo está mesmo no talento e no caráter do cidadão que tem como objetivo primordial, bem informar!

Então sou daqueles que acreditam que há espaço para todos, bastando apenas que aquele que vestiu a camisa do profissional de imprensa, honre o que se propõe a fazer, sem que necessariamente tenha que denegrir ou detratar mal alguém a serviço de interesses escusos ou propósito de outros, apenas para se dar bem!

Com o boom das redes sociais nasceram os chamados “novos jornalistas”! Mas assim como afirmo que o sol nasce para todos e todos os dias, afirmo, também, que são poucos os que passam nos testes a que se propuseram ao entrar no campo da informação. Enquanto temos pessoas usando a sua página para construir o bem, uma triste maioria pratica o péssimo jornalismo, aos moldes dos antigos jornalistas de esquinas e becos das velhas cidades (a fofoca da vizinhança), publicando e repassando falsas notícias, se sentindo o dono da verdade, sem sequer procurar checar se esta tem procedência, apenas pelo simples fato de não entenderem como a coisa funciona, ou por absoluta ignorância ou por pura maldade mesmo, dedicando-se apenas a prejudicar desafetos ou, ainda, por estarem sendo remunerados apenas para replicar fakes em beneficio de pessoa ou grupos interessados (praticando, o jornalismo de encomenda), prestando, na verdade, um grande desserviço a todos. Infelizmente, nessa corrida desenfreada, de bem ou mal informar, poucos se sobressaem – autodidatas ou formados – o que termina provando que tudo passa mesmo é pela (má)formação cidadã!

Fonte: Francisco Airton
Créditos: Francisco Airton