PT tem recidiva com o trauma de alianças para eleições – Por Nonato Guedes
A celebração de alianças pelo PT com outros partidos para a disputa de eleições sempre foi um tema traumático nas discussões internas da agremiação defenestrada do poder federal com o impeachment de Dilma Rousseff. Nos primórdios, na década de 80, quando foi forjado numa assembleia no Colégio Sion, referendada depois em núcleos operários do ABC, prevaleceu a teoria de que o PT deveria agir como um partido quimicamente puro, distanciando-se de composições com políticos e partidos tradicionais, a exemplo do PMDB, sucedâneo do MDB, ou de legendas que eclodiam na redemocratização como o PDT de Leonel Brizola e o PSDB de Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso.
Os petistas, no nascedouro, ainda abriram concessão para alianças com partidos de esquerda, a exemplo do PCdoB, mas a dificuldade de convivência tornou-se patente e inviabilizou muitas coligações que poderiam até ter contribuído para o fortalecimento de forças populares. A falta de discussão mais aprofundada empurrou o PT para erros crassos de avaliação e atitude em alguns Estados.
Na Paraíba, por exemplo, a cúpula estadual vetou pactos com líderes como Marcondes Gadelha, que havia integrado o grupo autêntico do MDB na ditadura militar, ou Antônio Mariz, que era reformista e, mesmo filiado à Arena por questão de sobrevivência local, compôs-se com o grupo “renovador” que em Alagoas atraía Geraldo Bulhões, então governador.
A deputada federal Lúcia Braga foi impiedosamente fustigada por petistas paraibanos, que vetaram o seu ingresso, embora ele tenha tido posições avançadas na Assembleia Nacional Constituinte, nas sessões de que pôde participar. Lúcia pagava o preço de ser mulher de Wilson Braga, o único governador do PDS no Nordeste a “malufar”, ou seja, fechar com a candidatura de Paulo Maluf a presidente da República por via indireta no Colégio Eleitoral. No metro quadrado da Granja Santana, residência oficial do governador da Paraíba, Wilson Braga agitava a bandeira de Maluf enquanto sua mulher Lúcia, primeira-dama do Estado, dava declarações à Veja e à TV Globo manifestando simpatia pela candidatura de Tancredo Neves, que tinha caráter de protesto no âmbito do próprio Colégio Eleitoral.
A alegada “pureza” do PT retardou em inúmeros Estados o processo de ascensão da legenda a governos estaduais ou municipais importantes. Na Paraíba, já em 82, o Partido dos Trabalhadores lançou o desconhecido advogado Derly Pereira como candidato a governador, enquanto o PMDB lançava Antônio Mariz e o PDS-PFL apoiavam Wilson Braga, o grande vitorioso. Derly, segundo o entendimento vigente, fora lançado por honra da firma, a fim de marcar presença e participação da legenda no processo político vigente e criar raízes para desdobramentos em eleições parlamentares, o que terminou acontecendo. Já em 2006, o PMDB abria-se para alianças flagrantes com outros partidos.
Na Paraíba, indicou um filiado – Luciano Cartaxo, como candidato a vice de José Maranhão (PMDB) no embate contra Cássio Cunha Lima (PSDB) que acabou reeleito e tendo o resto do mandato cassado pela Justiça Eleitoral. Mesmo quando se abria para alianças, o PT sustentava uma posição crítica e independente em relação aos aliados, o que prejudicou a sua maturidade na chegada ao poder federal.
O resto é o que se conhece. O PT nadou de braçadas no escândalo do mensalão, que expôs as vísceras de um partido que pretendia ser diferente e alegava nos fóruns nacionais e internacionais que era diferente.
A máscara caiu no mensalão e se agravou no “petrolão” que resultou nas prisões de líderes, tesoureiros e cabeças coroadas do Partido dos Trabalhadores, agora envolvidos em assalto aos cofres públicos, conforme comprovado pelas investigações da Lava-Jato. O epílogo do desmoronamento do PT foi o impeachment de Dilma Rousseff no segundo mandato, ela que fora a primeira mulher alçada à presidência da República em 2010.
A dados de hoje, o PT tenta recuperar espaços. E esbarra, de novo, no trauma das alianças. Mas Lula e Dilma, que passaram pelo poder, devem ter aprendido que governar no Brasil sem fazer aliança é impraticável, é inviável. O que, aliás, Fernando Henrique Cardoso propugnava há bastante tempo, sem, no entanto, ser levado a sério. O PT volta à vitrine, mas muito mudado. É esperar para saber que bicho sairá da nova configuração que os petistas estão lhe imprimindo.
Nonato Guedes
Fonte: POLEMICA PARAÍBA
Créditos: NONATO GUEDES