Opinião

Torrelândia, a fusão urbana que mais expressa a cidade - Por Sérgio Botelho

À medida que a nossa atual João Pessoa ia se expandindo, principalmente a partir do Século XX, novos bairros pintavam naturalmente. Um deles foi a Torrelândia que livremente significa espaço territorial de Torre ou da torre. No caso, de Torres, sobrenome de uma figura especial dos tempos originários do importante bairro pessoense.

Foto: Internet

À medida que a nossa atual João Pessoa ia se expandindo, principalmente a partir do Século XX, novos bairros pintavam naturalmente. Um deles foi a Torrelândia que livremente significa espaço territorial de Torre ou da torre. No caso, de Torres, sobrenome de uma figura especial dos tempos originários do importante bairro pessoense.

Quem nos informa sobre o dito é o mestre Gonzaga Rodrigues em uma de suas geniais crônicas intitulada “Torre, o bairro de seu Joaquim”, reproduzida no prestigiado blog literário Ambiente de Leitura Carlos Romero, criado pelo cronista, professor e acadêmico paraibano Carlos Romero, falecido em 2019, e que é tocado hoje pelo arquiteto, músico e escritor Germano Romero, filho do criador. Na verdade, esclarece Gonzaga, o dono da área atendia pelo nome de Manoel Deodato. Joaquim Torres exercia a função de administrador de suas (de Deodato) terras e casas.

De tão bom e piedoso que sempre fora com inquilinos e devedores em geral é que, atendendo solicitação popular, o “Conselho Municipal” deu ao bairro o nome daquele que se estabeleceu na condição de o mais querido do pedaço. “Depois, quando morreu o velho Deodato, o dono de tudo, a Câmara resolveu compensá-lo, e pôs seu nome numa das ruas do bairro de Seu Joaquim”, finalizou Gonzaga expondo a ironia da história para com o chefe do território. (Oportunamente, vamos falar sobre a importância da viúva Júlia Freire Henrique de Almeida, que perpetuou seu nome na Torre, e se transformou num capítulo à parte).

Conhecida a origem da denominação, agora um pouco de roteiro. Efetivamente, o bairro da Torre começou a existir no rastro da ampliação da cidade para o leste, em direção à praia. Revela-se, portanto, com a João Machado, Maximiano Figueiredo, Tambiá, Praça da Independência e Epitácio Pessoa. A Epitácio, ao norte, e mais a velha Estrada dos Macacos (hoje, Pedro II), ao sul, lhe demarcavam os limites. Tudo isso em torno dos anos 1920, quando a Parahyba do Norte ganhou tração. Havia o dinheiro do algodão e da cana de açúcar, afora o luxuoso auxílio do governo federal sob a batuta do conterrâneo Epitácio Pessoa.

Para ocupar o espaço da Torre, as primeiras levas de moradores foram maciçamente formadas de gente pobre. Na sequência, à proporção que a Epitácio Pessoa ia se encorpando economicamente, a avenida Beira-Rio construída, e o bairro se consolidando como um interessante logradouro em meio às diversas distâncias da cidade, a caracterização humana local passou a ser mais complexa, sendo nos dias de hoje um sítio urbano marcadamente heterogêneo, do ponto de vista social e econômico. O que se firmou, mais aceleradamente, a partir do século atual.

A Torre também guarda uma história cultural memorável e altamente representativa para a cidade de João Pessoa. Foi no bairro que o poeta e crítico e historiador da arte Mário de Andrade, paulistano de nascimento, sentou praça quando de sua passagem pela Paraíba, na primeira metade dos anos 1900, imbuído que se encontrava pela tarefa de registrar em imagem e som as mais autênticas manifestações culturais tupiniquins pelo Brasil adentro. Encontrou, na Torrelândia, o cadinho de tudo o que o povo fazia de mais genuíno, por aqui.

E cuidou para que o Brasil conhecesse o que descobriu, perpetuando a Torre no contexto histórico da cultura nacional.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba