Já começou. Eu bem que avisei, preveni, reclamei, mas não adiantou nada. Começou e começou com força, exatamente pelo flanco mais frágil dos nossos interesses.
Semana passada estava em um restaurante com mais duas pessoas. Pedimos o jantar ao garçom bem antes dos ocupantes das mesas ao nosso redor fazerem seus pedidos.
Pois todas as mesas foram atendidas antes de nós. Naturalmente reclamei. O garçom foi de uma sinceridade a toda prova:
-Tenha paciência, porque eles são turistas.
Muito bem. Ta legal. Ficamos combinados assim; toda vez que houver turista em algum restaurante, em algum bar, ele tem preferência. E se eles forem muitos, somente depois de todos eles é que nós, os nativos, seremos atendidos.
Em que tipo de índios estão nos transformando? Chegou o homem branco e devemos dar a eles a vez, abrir mão dos mais simples princípios e direitos? E nossas mulheres, qual será a hora de também facilitarmos o acesso para os turistas? Ou será que nem isso nos será avisado?
Lembro da historia do sujeito que viu levarem seus vizinhos porque eram judeus, e ele nada fez porque não era judeu. Na segunda noite levaram os vizinhos católicos, e ele nada fez porque não era católico. Na terceira noite levaram os vizinhos protestantes, e mais uma vez ele nem se importou porque não era protestante. Na quarta noite, quando vieram levá-lo, não havia mais ninguém para reagir.
Vamos tirar a mascara dessa vergonha que é o turismo “implantado” no nordeste do Brasil. Vão ao Ceará, ver em Fortaleza as meninas de treze, quatorze anos oferecendo seus corpos aos gringos nas mais concorridas praias. Dêem uma chegadinha em Natal, vejam como as mesmas chorosas namoradas que despedem-se dos seus gringos que embarcam de volta à Europa em vôos charters diários, já voltam do aeroporto para a cidade com os novos namorados, recém desembarcados daquele mesmo avião que retorna com o amor de ontem.
Recife é mais próxima. Comparem os índices de violência de hoje, pós turismo, com os de antigamente, pré gringos.
E nós, que não somos donos de hotéis nem de bares ou restaurantes, temos que engolir essa empulhação de que turismo vai “melhorar” a cidade? Melhorar para quem, cara pálida? Essa babaquice de gerar emprego e renda melhor produziria em mineração de nossas turmalinas azuis (história sempre envolta em sete capas), por exemplo.
Eu por mim vou começar o movimento terroturista. Vai ser assim: toda vez que um turista me perguntar onde é tal lugar, a depender do meu humor eu direi que não sei ou indico o lado oposto. Por exemplo, se eu estiver em Tambaú e me perguntarem onde é Camboinha, mando pegar descendo pela PB 008(aquela toda esburacada, que é para arrombar logo o automóvel desses fariseus) e irem até Pitimbú, para verem aquele monte de urubus voando à beira mar e catando carniça nos esgotos que correm a céu aberto na praia.
Sempre que estiver fora de João Pessoa e alguém me perguntar como é a cidade, vou dizer que é péssima, que o povo é antipático, que tudo é caríssimo, que não existe infra estrutura e que bom mesmo, afinal de contas, é Maceió.
Xô patuleia!
Aqui não. E tem mais, toda vez que me tratarem como cidadão de segunda classe em um bar ou restaurante, dando vez aos turistas, vou apresentar queixa na Delegacia por discriminação. Quer dizer que somente porque eu não tenho olhos azuis nem pele branca sou servido depois?
E esse negócio de aumentar os preços? O coco verde estava a cinqüenta centavos. Vamos ver a quanto vai nesse verão.
Quero João Pessoa limpa e bonita. Se sem os turistas já estamos no limite da capacidade de agüentar as praias imundas nas manhãs seguintes aos feriados, imagine só como isso vai ficar quando esses carniceiros chegarem aqui.
É isso aí, quem não gostar que se mude e vá vender seu corpo ou sua consciência em outra cidade, porque aqui eu vou resistir até o fim.
Se precisavam de um doido para começar o fuzuê, cheguei!
Fonte: Marcos Pires
Créditos: Polêmica Paraíba