Ser vice do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, é uma aposta no escuro. O papel que terá o companheiro de chapa da campanha e substituto legal nas ausências ou impedimentos do titular tornou-se uma incógnita, diante da revelação exclusiva feita à nossa reportagem por Nonato Bandeira, ainda vice da primeira gestão de Luciano, de que não teve espaço para fazer pelo interesse público. Não é o caso de achar que Luciano tenha sido centralizador por trauma como consequência do papel nulo que lhe foi reservado quando se investiu, ao lado de José Maranhão, no restante do mandato de Cássio Cunha Lima, que havia sido despejado pelo TSE, em 2009. Maranhão e Cartaxo (este pelo PT) compuseram a chapa que Cássio e José Lacerda Neto derrotaram em 2006. Como a política é muito dinâmica, Cartaxo recebeu apoio de Cássio e de Maranhão na campanha para se reeleger este ano.
Mas, aí, o vice já era outro: ninguém menos que o deputado federal Manoel Júnior, indicado pelo PMDB depois que o partido achou melhor não lançar candidato próprio, talvez temendo um revés nas urnas. Ora, dirão, Júnior é diferente de Bandeira. Sim, há diferenças em tese. O PMDB é um partido que tem cacife para pressionar Cartaxo a prestigiar Júnior – e já se fala que ele deve acumular a vice, a partir de janeiro, com a secretaria de Saúde. Se isto não ocorrer, restará ao PMDB a expectativa de que Cartaxo renuncie na metade do segundo mandato para disputar outro cargo, talvez o de governador, deixando a plenitude da prefeitura sob o comando de Manoel Júnior que, então, pode cogitar uma candidatura própria à reeleição. Mas…e se Cartaxo decidir esticar o mandato e cumpri-lo até o fim? Júnior ficará na posição dos Velhos do Restello – a ver navios, a não ser que renuncie às honras do posto, como o fez quando foi vice de Ricardo Coutinho, não teve espaço e logo em 2006 candidatou-se a federal, ganhando um mandato para chamar de seu.
O que se está avaliando aqui não é exercício de achismo. Está dentro de uma certa lógica que tem regido a política no que toca ao espaço dos vices – seja vice-presidente da República, vice-governador de um Estado ou vice-prefeito de uma cidade importante como a Capital da Paraíba. Mas, voltemos a Nonato. Na entrevista exclusiva que nos concedeu, o que ele dá a entender é que Cartaxo preferiu cercar-se prioritariamente de um grupo familiar-camarada. Impossível negar a influência do seu irmão gêmeo, Lucélio Cartaxo, na administração municipal, em termos de estratégia política. Tanto tocaram de ouvido os gêmeos, nesse período, que Lucélio imaginou que já estivesse pronto para ganhar uma vaga no Senado em 2014. O eleitorado não entendeu assim – e ficou para depois!
Comparado com o PMDB, o PPS que Nonato Bandeira preside na Paraíba é uma agremiação raquítica ou nanica, para usar uma expressão incorporada ao jargão político da imprensa. Ocorre que Nonato foi peça de uma engrenagem que atraiu o falecido prefeito Luciano Agra, preterido dentro do PSB como candidato à reeleição a prefeito de João Pessoa. Cartaxo encontrou, nesse desaguisado, o seu ovo de Colombo, a chance de reforçar-se eleitoralmente. Agra, bem ou mal (devido aos impedimentos da legislação) controlava a máquina da prefeitura. Cartaxo ofereceu-lhe o direito de indicar o vice para selar a união capaz de abalar o esquema de Ricardo. Agra indicou Nonato Bandeira. A vitória foi selada aí, restando a Ricardo, por honra da própria firma, carregar nas costas a candidata Estelizabel Bezerra, que teve até performance surpreendente mas não arrebatou o troféu da vitória. Estava tudo montado para uma gestão tocada a quatro mãos, entre Cartaxo e Bandeira. Deu-se a morte de Agra, Cartaxo sentiu-se como que desobrigado de qualquer compromisso. O céu era o limite, na sua avaliação e do seu “staff”. E ele governou este primeiro mandato com o núcleo familiar e o núcleo da cozinha do poder. O vice? Foi despachado para o Altiplano Cabo Branco, exilado na ponta oriental das Américas, como se fosse um intruso dentro da administração.
Sinceridade? Perdeu a Capital, porque Bandeira tinha um potencial enorme a agregar às ideias de Luciano Cartaxo e, além disso, conhecimento das pulsações da cidade-Capital com mais autoridade e domínio do que o próprio prefeito. Bandeira havia percorrido todos os lugares de João Pessoa na companhia do hoje governador Ricardo Coutinho. Ao fazer as revelações hoje à nossa reportagem, Bandeira foi honesto ao advertir que não está bancando o papel do “coitadinho”. Respondeu porque lhe foi perguntado e porque as respostas eram aquelas, sem tirar nem pôr, por refletirem a realidade de ostracismo a que foi impiedosamente submetido na primeira gestão de Luciano Cartaxo, sem prejuízo da relação pessoal, que parece civilizada entre eles, como convém a cavalheiros. Nos bastidores, enquanto isso, o circo pegava fogo. Mas quem se preocupava com os bastidores se todas as atenções estavam concentradas na figura do titular? Luciano foi cumulado com todas as prebendas. Bandeira? Quem era Bandeira no desenho do poder?
Nonato Bandeira não é apenas o vice que deixa o cargo no dia 31 de dezembro. É um quadro político vigoroso, que não fica inaproveitado porque tem talento, obstinação e vontade de seguir em frente quando a intuição lhe recomenda que siga esse itinerário. Em princípio, ele foca numa candidatura à Câmara Federal. Trabalha bem, do ponto de vista de perspectiva, já que Júnior será um a menos a representar a Capital naquela Casa e Lucélio…bem, talvez tente o Senado novamente em 2018. Independente das equações do clã Cartaxo, Bandeira tem seu próprio projeto – que vai confluir inevitavelmente com os caminhos do governador Ricardo Coutinho, reeditando-se uma parceria que deu certo em outras empreitadas. Nada de surpresa. Política – vale repetir o filósofo Manuel Gaudêncio – é atividade dinâmica. E na Paraíba, só é…dinâmica!
Por NONATO GUEDES
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Fonte: OSGUEDES
Créditos: NONATO GUEDES