Enquanto o país agoniza, disseminadores do ódio postam fakes, desdenham do sofrimento de vítimas e dos esforços das autoridades no enfrentamento ao Covid-19.
Me assusta a insensatez dos seres humanos – pelo menos de alguns – que em meio ao caos, debocha do perigo e irresponsavelmente põem em risco a vida de milhões de pessoas. Não respeitam o outro – os próprios parentes, amigos até, desrespeitando gente que acredita na vida e que, acima de qualquer coisa, quer contribuir para minimizar os nefastos efeitos da ameaça que assola o mundo!
É vendo o noticiário e acompanhando os números que, com muita preocupação, vejo a pandemia – como um enorme tsunami – fazer as suas vítimas (as que morrem e as que ficam chorando suas perdas, sem sequer poder enterra-las ou mesmo se despedirem)! É assustador ver o sorriso debochado dos que ainda não foram atingidos pelo redemoinho, indo as ruas sorrindo dos aflitos, totalmente cegos pelo ódio e pela paixão letárgica a um “boi de ouro”! Eu não gosto muito dessa expressão usada, mas admito que uma minoria poderosa e que se sente blindada pelo poder, esteja arrastando os mais pobres e ignorantes, para suas teias reforçadas de preconceito e muita maldade!
Estou em casa! E a minha família, também, está em casa! Estamos, assim como você, fazendo a nossa parte e ajudando a minimizar os danos. Apesar de saber que o meu vizinho não parece muito preocupado (ainda) comigo e, dessa forma, sai as ruas impunemente. Mas eu FICO EM CASA!
A batalha tem sido árdua e, aqui, louvo a ação de todos os profissionais da área da saúde, que, apesar dos parcos recursos e das ínfimas condições que lhes são oferecidas, continuam na linha de frente, muitos se contaminando e contaminando colegas e aos próprios pacientes, muitos desses profissionais até morrendo para salvar vidas! A frieza desses zumbis é tanta, que, nem as enormes valas comuns cavadas pelas autoridades para sepultamentos coletivos – a exemplo de Manaus – conseguem sensibilizar essas criaturas!
Dados da Associação Brasileira Médica apontam que, em um mês, médicos registraram 3.181 denúncias sobre falta de equipamentos de proteção individual (EPI) no atendimento a pacientes com o Covid-19. São Paulo, Rio e Porto Alegre são as cidades com mais registros de reclamações. Mas nessa luta desigual, continuam, apesar de tudo, na linha de frente para salvar vidas! Até mesmo a vida de pessoas descrentes do agravamento do problema… Afinal de contas, são vidas! O que falo aqui pode até soar como velho clichê de um filme barato, mas é preciso dizer. Pessoas estão dando as suas vidas para salvar as vidas de outras pessoas!
Não sei se o medo e a tristeza que me tomam nesse momento é pelos efeitos do vírus ou pela indiferença de muitos! Até o momento em que escrevo esse texto, mais de 2 milhões e meio de pessoas já foram infectadas em todo o mundo e só no Brasil os números já ultrapassam os 43 mil casos com quase 3 mil mortes! Ver e ouvir pessoas próximas ao meu círculo de amigos, totalmente céticas e defendendo barbaridades, assusta sim, pois não se trata de pessoas menos esclarecidas. Elas tem nível superior ou técnico e isso lhes dá a perfeita condição de pensar e de decidir! Não, não é apenas por ignorância! Os motivos vão bem mais além! Não se concebe que pessoas de um certo nível intelectual, venham as ruas para pedir a volta do AI-5, a intervenção militar e o fim de instituições como o Congresso Nacional e o STF. Esse filme, nós que chegamos aos 60, já vimos e não gostamos nem um pouco! No entanto não é preciso ter nascido antes de 1964 ou nos anos 1970 para saber o que significou a Ditadura Militar e o assassinato e a tortura de pessoas nesse país simplesmente por não concordarem com as imposições ditadas! Apenas por querer um país livre, para iguais! Basta ler! Basta estudar a história! Então, – decididamente – não pode ser apenas falta de conhecimento. Isso pra mim tem um outro nome!
É importante lembrar, no entanto, que o coronavírus é bem mais importante, nesse momento, do que o ódio gratuito que essas pessoas sentem por lideranças ou representantes de partidos políticos! A verdade é que ao que parece, o país enlouqueceu e as pessoas perderam completamente a condição de raciocinar e discernir entre o que é racional e o que é pura loucura! As mortes que estão batendo a nossa porta – definitivamente – não são frutos de uma questão meramente política! As pessoas precisam acordar para entender de uma vez por todas que o mundo foi arrebatado por um inimigo invisível e mortal, que não distingue cor, credo ou classe social. Que fique bem claro que mais cedo ou mais tarde ele vai chegar para você, também, ou para os seus!
Apesar dos números – até a tarde desta quarta-feira o número de pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus no Brasil subiu para 45.757 e o total de mortes chega a 2.906. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde na tarde desta quarta-feira. No último balanço do governo, as 23h da terça-feira, 21 de abril, o total de infectados chegava a 43.079 e 2.741 mortes confirmadas. O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou em uma entrevista à coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, que para conter a epidemia, somente o distanciamento social – e os resultados, segundo o ex-ministro, são palpáveis e pouparam o País de atingir cifras ainda mais trágicas!
Dessa forma, ao invés de usar da ironia como normalmente faço quando escrevo e discordo do que vejo, faço veemente apelo a essas pessoas! Que não compartilhem falsos depoimentos em suas redes sociais! É inadmissível o que muitas pessoas – vestindo jalecos como se fossem enfermeiros ou médicos – que postam seus vídeos tentando desacreditar quem realmente está na linha de frente – falando de UTIs desocupadas (enquanto dezenas de corpos são enterrados em covas rasas), famílias desesperadas choram seus entes queridos sem que possam vela-los e profissionais usando jalecos feitos de sacos plásticos com máscaras reutilizadas por tantas vezes pela absoluta falta de recursos! Então, quando você replica essas inverdades, você torna-se tão cruel e criminoso quanto quem postou apenas para disseminar um outro vírus tão mortal quanto o que devasta a humanidade – o vírus da mentira!
Por tanto, assim como você, nós queremos voltar ao trabalho! Precisamos! Mas, mais importante que abrir as portas da economia, nós precisamos estar vivos! Que os governantes encontrem a forma para equacionar o problema. Que usem as reservas para fornecer meios de sobrevivência a população! Eu não sou presidente da república, nem governador ou prefeito. Eu sou cidadão e preciso viver – acima de tudo!
Eu relutei para falar dele (o Capitão) neste novo artigo, mas não foi possível, pois ele é o maior responsável por essa desobediência civil! Bolsonaro – mesmo diante do caos e das valas abertas – disse que não é coveiro e que 70% dos brasileiros serão acometidos pelo vírus! Será que o maestro dessa sinfônica da morte acha que ficará entre os 30% restantes? E quanto a escolha sugerida pelo novo ministro da Saúde, de que “o país terá que optar entre um paciente jovem ao idoso”, essa regra valerá para o seu chefe quando tiver que optar?
Então, mais respeito aos coveiros e maior sensibilidade e consideração para com os nossos idosos! A vida do ser humano não é mercadoria para ser negociada. Não se pode simplesmente escolher a quem caberá o benefício de viver!
Fonte: Francisco Airton
Créditos: Francisco Airton