Opinião

Sanhauá: fio condutor da história pessoense - Por Sérgio Botelho

O nascimento de João Pessoa à margem direita do Sanhauá, dentro de seus minguados 8 quilômetros, conferiu ao rio conotação histórica perpétua para a cidade de João Pessoa.

 

Foto: Internet

O nascimento de João Pessoa à margem direita do Sanhauá, dentro de seus minguados 8 quilômetros, conferiu ao rio conotação histórica perpétua para a cidade de João Pessoa.

Ele nasce do encontro dos rios Marés (após formar a barragem de Marés, de basilar importância no sistema de abastecimento d’água em João Pessoa) e do Meio, todos, ao fim e ao cabo, com grandes ligações, em especial com João Pessoa e Bayeux. Ainda que também com Santa Rita. Se do lado direito está João Pessoa, no caminho do rio ao encontro do também histórico Paraíba, do lado esquerdo está justamente Bayeux. E lá no nascedouro do Rio Marés, há limites com Santa Rita.

Em função da ampla foz do Paraíba no encontro com o mar, à altura do Porto de Cabedelo, o Sanhauá, em toda a sua extensão, o Marés e o Paraíba, em seus cursos finais, recebem forte influência do movimento das marés do Atlântico. Já depois de se encontrar com o Paraíba, na parte que é formada a Praia do Jacaré, acontece um belo e tocante espetáculo todos os dias no fim da tarde. É o internacionalmente famoso Pôr do Sol do Jacaré, ao som do Bolero de Ravel executado pelo saxofonista Jurandir.

Votando à altura do rio onde nasceu João Pessoa, foi ali que operou por mais de 300 anos o porto da cidade, antes de o estuário de Cabedelo servir para tal fim. Portanto, além de ter embalado a cidade em seus primeiros passos, o Sanhauá foi indispensável para o seu desenvolvimento econômico. No Porto do Capim, embarcavam e desembarcavam mercadorias, incluindo dinheiro, ouro e prata, indo ou vindo do resto do Brasil e do mundo, movimentando a economia local. Mas também de autoridades que iam ou voltavam ou chegavam à Filipeia de Nossa Senhora das Neves e à Parahyba do Norte durante os séculos em que funcionou como porto único local.

Sem falar nos hidroaviões que em algum tempo baixaram no leito do rio. De mais a mais, o Sanhauá em seu curso se permite a um visual desfrute como belíssima gravura a partir das partes elevadas da cidade de João Pessoa. Visual que deve ter encantado os conquistadores. E antes deles, os milenares proprietários de todo o pedaço: os índios. Dessa maneira, até hoje serve de forte inspiração para poetas e motivo de devaneio a pessoenses enamorados pela cidade.

O Sanhauá é fio condutor da história, cultura e vida de João Pessoa. Sua beleza e utilidade inspiram admiração e respeito, e sua preservação é uma questão crucial para o futuro da região. Esse, um capítulo vital para a continuidade de seu curso e de sua utilidade ambiental e econômica, tanto para seu contorno quanto para as gentes que ainda hoje sobrevivem de suas águas e de seus mangues.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba