RICARDO FICA OU SAI?
Por Flávio Lúcio
O governador Ricardo Coutinho não tem deixado margens para certezas quando o assunto é sua permanência ou não no cargo, decisão que ele pretende anunciar no próximo dia 6 de abril, um dia antes do prazo fatal para renuncia. Agora, todo mundo com algum interesse na decisão tem de “interpretar” os sinais que ele vai deixando. Mas, mesmo assim, não tem sido fácil traduzi-los de maneira unívoca.
Alguns acham que as inaugurações marcadas para antes do dia 7 indicam que RC vai deixar o cargo, porque, se não fosse isso, poderiam ser deixadas para depois. Mas, e João Azevedo, o candidato do governo que, como todo mundo sabe, deixará o cargo nos próximo dias? Outros chegaram mesmo a enxergar “um tom de despedida” nas palavras que o governador proferiu ontem em Campina Grande, palavras que, não esqueçamos, ele repete já há alguns meses. O que disse RC? “Vou me pronunciar acerca do meu destino.
Na verdade, estou hoje mais do que profundamente grato ao povo da Paraíba por me conceder governar esse estado. Me sinto incomodado quando percebo que posso fazer as coisas e não fazer.” Se todo mundo puxar pela memória vai lembrar, desde que a questão do afastamento do governador ganhou relevância na imprensa, esse é um discurso recorrente de RC. Ele não cansa de agradecer a generosidade do povo paraibano, que o elevou a uma condição política que ele jamais imaginou chegar no início de sua carreira.
Nada mudou, nesse aspecto, mas quando o desejo não se encaixa com a realidade, essas ilações se tornam uma válvula de escape. Outros recorrem à lógica formal para desvendar o enigma Ricardo Coutinho com uma pobreza de raciocínio reveladora da incapacidade que alguns segmentos da política paraibana têm quando se defrontam com figuras públicas como o governador da Paraíba.
Que “raciocínio lógico” é esse? TODOS os governadores, até então, na condição que Ricardo Coutinho ostenta atualmente (amplas chances de se eleger senador), deixaram o cargo para concorrer ao Senado. Uma métrica que serve para muitos, mas não para todos. Dito de outra forma, isso diz algo, mas nem diz tudo, muito menos o essencial: Ricardo Coutinho pertence a uma outra linhagem, a outra tradição política.
Ele não está, claro, imune aos objetivos dos seus próprios projetos, como seria natural, mas RC tem plena consciência da superioridade política e moral do que ele representa hoje para a Paraíba. Para resolver o problema, entrentanto, não será meramente a consideração dos interesses individuais de RC que determinará sua decisão porque, mais importante do que sua sobrevivência pessoal, está a sobrevivência futura do projeto político e administrativo que ele lidera – uma coisa depende da outra, – que se funda em um sentimento, uma compreensão, uma expectativa social, algo que vem de fora para dentro e que RC foi capaz de interpretar com sensibilidade social e política.
Por isso, chegou aonde chegou. Não é por acaso que é tão difícil decifrar o enigma Ricardo Coutinho. O que ele vai anunciar daqui a sete dias ninguém sabe, talvez, nem ele próprio. Eu soube que Ricardo Coutinho está “recolhido” com sua família para analisar os cenários de sua renúncia ou de sua permanência.
Durante o fim de semana, ele pretende compartilhar suas duvidas a partir das consultas que fez a aliados políticos e pessoas de sua confiança para, no dia 6, anunciar a melhor decisão.
Esse fato, por si só, indica que nada está decidido sobre sua continuação no cargo. Eu que sempre apostei todas as minhas fichas na permanência de RC no governo já não o faço mais. Agora, quando se trata da renúncia ou não de RC tudo ficou imprevisível. Como sempre foi Ricardo Coutinho.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Flávio Lúcio