REGALIAS PARA DEPUTADOS: Um tapa na nossa cara - Depois perguntam o motivo da população sentir vergonha da classe política - Por Laerte Cerqueira

Tapa na cara

Por Laerte Cerqueira

Do Jornal da Paraíba

Enquanto o brasileiro “se vira nos trinta” para colocar todos os gastos no orçamento com salários arrochados, deputados federais dão um péssimo exemplo. Não que muitos sejam bons nisso. Mas o reajuste do teto para os gastos parlamentares e o aumento das regalias abusam da bondade do brasileiro. Ninguém nem questiona se é merecido ou não. Mas o momento, com certeza, é erradíssimo.
Todos falando em corte de gastos, ajuste fiscal, redução de despesas e os deputados vêm com uma dessa. É um tapa na cara do “pobre povo brasileiro”. Os reajustes são nas verbas de gabinete, usadas para pagar funcionários, auxílio-moradia e na cota parlamentar, além de gastos com passagens aéreas e conta telefônica. É muito? Não. Agora as mulheres dos deputados e maridos das deputadas vão ter direito de utilizar a cota de passagens aéreas, desde que sejam, exclusivamente, entre Brasília e o estado de origem. Tudo vale a partir de abril. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), disse nas entrevistas que serão feitos cortes na mesma proporção para que o impacto seja zerado. Como se a questão, agora, fosse zerar. A hora, pelo menos é o que vendem para o povão, é de diminuir.
Depois perguntam o motivo da população sentir vergonha da nossa classe política. Lá vão alguns números para ajudar na compreensão do rombo. A verba de gabinete passará de R$ 78 mil por mês para R$ 92 mil. Cada parlamentar pode contratar até 25 pessoas. A cota destinada, entre outras coisas, para pagar despesas com telefone, correio, o custeio de passagens aéreas e transporte, será acrescida em 8%. O valor varia conforme o estado de origem do deputado. No caso da Paraíba, é pouco mais de R$ 38 mil, segundo setor responsável por esses pagamentos, lá na Câmara Federal. Já o auxílio-moradia passará de R$ 3.800 para R$ 4.243 por mês. Aqui um dos doze deputados federais, anunciou que vai renunciar aos aumentos. Foi Pedro Cunha Lima (PSDB). Pelo menos até o fechamento da coluna, só ele se pronunciou nessa linha.
Os deputados federais parecem demonstrar, com esse tipo de atitude, que não têm nenhum respeito com o povo que eles representam. Respeito aos empresários, comerciantes, assalariados, ao setor produtivo de maneira geral. Todo mundo fazendo sacrifício. Por que eles não fazem? Deveriam ser os primeiros a dar exemplo. Na casa de um cidadão comum quando as coisas apertam o lazer diminui, o almoço passa a ser em casa e não no restaurante, as saídas ao cinema ficam mais restritas. Nenhum de nós pega o dinheiro do outro para bancar benefícios que, numa situação ruim, podem ser sacrificados.
Deveriam ter vergonha de agir com tanto desprezo com as dificuldades do povo brasileiro. Aumentos como esse seriam menos dolorosos se estivéssemos numa fase boa. Não estamos. É aperto por todos os lados. A própria Câmara deve aprovar, nos próximos dias, um pacote de ajuste fiscal, com mais impostos para o cidadão comum e para os empresários, menos benefícios sociais e trabalhistas. É tapa na cara por todos os lados. Aliás, esse é um tipo de atitude que merece um protesto barulhento em Brasília.
Bom senso
Pelo menos algum sinal de bom senso apareceu, ontem. Bancadas do PSOL, PSDB e PPS da Câmara vão ao STF contra as passagens para os cônjuges dos deputados.

Esperando
A classe política, em Brasília, vive momentos de tensão à espera da lista de “autoridades” supostamente envolvidas no esquema revelado pela Operação Lava Jato.