Sendo nos tempos atuais do Brasil e do mundo das viagens, do lazer e das contemplações uma cidade litorânea famosa justamente por isso, não foi nessa conformidade que João Pessoa nasceu. A capital paraibana surgiu à beira do rio Sanhauá, a apenas 8 quilômetros da sua orla hoje tão apreciada.
Porém, somente perto de trezentos anos depois, isto no final do século XIX e início do XX, é que bem de mansinho sua gente foi chegando ao mar. Inicialmente, montada ou a pé, por meio da Estrada de Tambaú cercada de perigos, de animais peçonhentos, de charcos, de doenças e de assaltantes por todos os lados da Mata Atlântica. A partir de 1908, pelo mesmo caminho, por um trem eventual, após a colocação de trilhos, evidentemente. Na sequência, morcegada em bondes. Depois, a Epitácio Pessoa ainda rudimentar. A seguir, pavimentada. Então, BR-230, Retão de Manaíra, Rui Carneiro e Beira Rio, até serem erguidas as monumentais Tambaú, Cabo Branco, Manaíra, Bessa e Intermares, algumas vezes quase tocando as nuvens, conforme as conhecemos atualmente.
Mas tudo, não nos percamos na história, começou mesmo lá atrás, na margem do rio, na parte da urbe pessoense que conhecemos como Varadouro. Portanto, o bairro mais antigo da cidade. Foi lá, nos idos de 5 de agosto de 1585, que os conquistadores chegaram à Paraíba e fundaram a Cidade Real de Nossa Senhora das Neves, após acordo com os índios Potiguaras, intermediado pelos Tabajaras. O ponto radiante do berço paraibano é o Porto do Capim, que, até o início do Século XX, era a única porta de entrada oficial da cidade e de toda a Paraíba. Suas ruas originais foram traçadas de forma retilínea e suas construções obedeceram a um certo planejamento. Outras ruas e construções, entretanto, surgiram ao sabor das exigências de uma cidade em expansão.
Ali, ao longo dos primeiros tempos, se estabeleceram moradias, armazéns e órgãos públicos, como os dedicados à cobrança tributária. Com o passar do tempo, os prédios foram se expandido na direção de novas ruas que iam sendo criadas, a exemplo da Maciel Pinheiro e da Areia. Estas ainda dentro do espaço reconhecido como da cidade baixa. Pois bem, à medida que a urbe e seus equipamentos subiam na direção da cidade alta a região ia perdendo sua importância. No final do século XIX, em direção ao norte, o trem chegou a Cabedelo. Mais tarde, na década de 1930, com a inauguração do Porto de Cabedelo, e o do Capim desativado, caiu inapelavelmente a relevância do Varadouro.
Na atualidade, três equipamentos urbanos vitais para a mobilidade entre João Pessoa, sua região metropolitana, o estado e o país se encontram no Varadouro: o Terminal Municipal de Integração, o Terminal Rodoviário e a Estação Ferroviária metropolitana. Neste cenário, as gentes que habitam aquela região da cidade, majoritariamente dedicadas à pesca, lutam para sobreviver no local, enquanto o poder público municipal busca interferir no sentido de transformá-la definitivamente em espaço de atração turística. O que se espera aconteça sem maiores padecimentos à já sofrida população local.
Prestem atenção que, um pouco lá no alto, em seu vetusto largo, como que a velar por tudo, vê-se a histórica Igreja de São Frei Pedro Gonçalves. Tudo isso formando um cenário belíssimo e carente de muita proteção e respeito. Afinal, foi no Varadouro onde teve início a grande aventura chamada Paraíba.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba