Há quatro monumentos católicos antigos na capital paraibana que apesar de derrubados deixaram marcas indeléveis nos enredos da Igreja Católica da Paraíba e da própria cidade.
A demolição desses quatro símbolos da evolução urbana e do catolicismo de Parahyba do Norte ocorreu em um período histórico comum: o da marcante expansão da cidade entre as décadas de 1920 e 1930, nas primeiras décadas republicanas, e do primeiro período de autonomia da Igreja Católica da Paraíba com relação a Olinda. Falo das, à época, mais que centenárias igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em frente ao atual Ponto de Cem Reis, de Nossa Senhora Mãe dos Homens Pardos Cativos, em Tambiá, de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, no conjunto jesuítico da atual praça João Pessoa, e de Nossa Senhora das Mercês dos Pardos, onde hoje existe a Praça 1817.
As duas primeiras foram demolidas em 1923 na administração do prefeito Walfredo Guedes Pereira, ao tempo da presidência estadual de Sólon de Lucena. A da Conceição dos Militares, em 1929, no governo do presidente João Pessoa, a mando dele próprio. E a última, a das Mercês, em 1935, durante breve retorno de Guedes Pereira à prefeitura da capital, no governo Argemiro de Figueiredo. Todas, porém, no período de Dom Adauto que, entre bispo e arcebispo, chefiou o catolicismo paraibano entre janeiro de 1894 e agosto de 1935.
Nesse período, avalizou as desapropriações das referidas igrejas a pedido dos gestores públicos, visando a execução dos projetos explicados como de expansão e melhoramento da nossa urbe. As concessões feitas por Dom Adauto, no entanto, coincidem – conforme explicou padre Marcondes Silva Meneses em sua dissertação de Mestrado no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPB, intitulada O Processo de Demolição e Desmonte das Irmandades Religiosas na Cidade da Parahyba (1923-1935) – com a chamada romanização da Igreja Católica na Paraíba e no Brasil.
Isso significava entregar o comando de paróquias e espaços litúrgicos ao clero secular, mais obediente ao Vaticano, em detrimento das irmandades leigas que, até então, administravam as igrejas demolidas. São exemplos maiores da atuação dessas irmandades a do Rosário dos Pretos, da Mãe dos Homens e das Mercês. As irmandades eram bastante vinculadas às comunidades, inclusive respeitando manifestações culturais tradicionais, atendendo necessidades particulares e coletivas e, por conta de tudo isso, patrocinando maior segurança existencial e identidade ancestral aos irmãos a elas vinculados.
Sob patrocínio estatal, a Mercês e a Mãe dos Homens foram reconstruídas bem perto das derrubadas, enquanto a do Rosário foi compensada com a de Jaguaribe. Porém, com a movimentação urbana pretendida e executada, perderam-se o registro histórico desses templos, do ponto de vista físico e espacial, e a força social e moral das irmandades.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba