Pelo menos a dados de hoje parece haver uma dicotomia entre o saldo de obras da gestão Luciano Cartaxo em João Pessoa – que é inegável, juntados os dois períodos de mandato que está empalmando – e o herdeiro desse espólio que pode vir a ser ungido tranquilamente como sucessor dele. Não há, na constelação de nomes que ornamenta a moldura dos quadros políticos liderados por Cartaxo, um rosto que se distinga pelo carisma e pela densidade eleitoral de tal sorte que, uma vez recomendado pelo gestor e seu esquema, possa ser absorvido por gravidade por parcela expressiva do eleitorado pessoense e conduzido, em triunfo, ao Centro Administrativo Municipal.
Diz Luciano, em tom impositivo, que o candidato do seu grupo à sua sucessão sairá das fileiras do Partido Verde, que ele preside no Estado e que o irmão gêmeo, Lucélio, preside na Capital. Em tese, a assertiva se insere na lógica mediana do processo eleitoral concernente ao maior reduto do Estado. Na prática, não bate com as opções disponíveis, quando elencado o item da “competitividade”, sobretudo quando não se tem delineados, ainda, quais os adversários que virão pela frente e que poderão ser mais fortes, podendo nadar de braçada na corrida sucessória desenhada no calendário.
Tirante Lucélio, que por razões legais e óbices familiares não pode se candidatar à vaga do irmão gêmeo, quem há de ser mencionado como postulante de peso – ou dessa tal densidade, que é sempre cobrada por analistas políticos para efeito de especulações sobre cenários? Diego Tavares empolgaria o eleitorado da Capital a ponto de vir a sentar na cadeira que Luciano ora ocupa? Hidelvânio Macêdo tem “approach” e identidade com o sentimento pessoense para sair de um pleito renhido com a taça na mão? Adalberto Fulgêncio, sem traquejo em disputas eletivas, seria o “cara”? Descarte-se o vice-prefeito Manoel Júnior no rol das opções do “clã” Cartaxo. Além de não ser “in pectoris” para obter apoio a uma candidatura a prefeito, está filiado ao Solidariedade. E esperou em vão que Luciano renunciasse para disputar o governo em 2018, permitindo-lhe ascender à titularidade e, a partir daí, sonhar com um mandato conquistado nas urnas. O enredo foi outro, como sabem todos.
Não procede a versão de que Luciano esteja apostando numa prorrogação de mandatos – tese que é desarquivada de forma recorrente com o pretexto surrado da coincidência de eleições, que nunca acontece no país. A valer a premissa do prefeito atual de que o candidato a ser carimbado pelo seu esquema sairá inexoravelmente do PV, resta ficar atento a adesões que possam pipocar de última hora, no rastro da janela partidária que vai se abrir de forma casuística. Pode ser que daqui venha a emergir o “coelho” plantado na cartola do chefe do executivo municipal para decidir a parada sucessória. Porque, abstraindo tudo isso, não há o que teorizar. E nem é o caso de ignorar que o ex-governador Ricardo Coutinho pode vir com força para disputar uma prefeitura que já ocupou duas vezes, até motivado por idssiosincrasia ostensiva que ora mantém com o governador João Azevêdo, a quem apoiou em 2018. E quem será o candidato de Azevêdo, que deverá bater em retirada do PSB para ingressar numa legenda que possa chamar de “sua”?
E como ficam o MDB de José Maranhão, o DEM de Efraim Morais, o PTB de Wilson Santiago (pai e filho), o PT de…Jackson Macedo, afora as legendas aparentemente sem maior representatividade mas que sempre dão o ar da graça em prélios eleitorais importantes e atuam, inclusive, como fiéis da balança em momentos decisivos, quando, por exemplo, a onça precisa beber água? O PSL, com ou sem o presidente Jair Bolsonaro, não teria nenhum interesse – até para fazer jus a recursos do Fundo Partidário – em participar da competição eleitoral em João Pessoa? E o PSDB de Ruy Carneiro e Cícero Lucena, ficará a ver navios na corrida sucessória municipal, depois de tanto tempo em jejum no comando da prefeitura pessoense?
Em relação ao PSB, cabe um P.S: não sendo Ricardo Coutinho o candidato a prefeito (vai ver, ele tem outros planos mais ambiciosos), o ungido poderá ser o deputado federal Gervásio Maia, que teria imenso prazer em “ir para o sacrifício” e para o confronto com o esquema de João Azevêdo, do qual mantém distância providencial. Aspas fechadas. Não teremos uma conjuntura fácil, para ninguém, na eleição de 2020 para prefeito de João Pessoa. Exatamente porque será um cenário atípico, tumultuado, confuso para boa parcela do eleitorado. E que pode dar origem a que das urnas resulte tudo, inclusive, nada…
Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes