As articulações para as eleições de 2024 já estão a todo vapor. A principal disputa do estado mais uma vez será na capital.
João Pessoa não é conhecida por ser uma cidade com eleições muito disputadas. Nos últimos 25 anos, só ocorreram dois segundos turnos. Nas duas situações houve a coincidência de várias candidaturas de grandes partidos norteando a eleição. Em 2012, Ricardo Coutinho estava no auge da popularidade ao ser eleito Governador em um segundo turno elétrico contra o saudoso José Maranhão. A escolha do nome da situação parecia ser confortável, o Vice-Prefeito Luciano Agra tinha boa aprovação da população e caminhava para uma vaga no segundo turno.
Em janeiro, ele havia declarado abrir mão de ser pré-candidato, mas, no dia 30 de maio, voltou atrás e garantiu que queria retomar a candidatura, inclusive pedindo ajuda à direção nacional do PSB.
Mas as ideias de Coutinho eram diferentes e ele bateu o pé pela candidatura de Estela Bezerra, que era uma completa desconhecida do grande público paraibano. Após muitas brigas na justiça, uma prévia foi realizada onde Estela ganhou por uma margem tranquila, se tornando o nome do Governador.
A oposição apresentou três nomes muito fortes, o ex-Governador José Maranhão (MDB) decidiu se candidatar apenas dois anos após a derrota para Ricardo na disputa ao Governo. O ex-Prefeito Cícero Lucena (PSDB), tinha sido eleito Senador em 2006 e queria derrotar Ricardo Coutinho, que havia vencido o PSDB em duas eleições consecutivas. E por último Luciano Cartaxo (PT), Vereador por vários mandatos e Vice-Governador ao lado de Maranhão, Cartaxo apareceu como um azarão que surfava na popularidade de Dilma e Lula, em um dos melhores momentos do PT nacionalmente.
A eleição foi muito disputada com os quatro candidatos com chances de ir para o segundo turno. Cartaxo foi uma surpresa tendo 38,32% dos votos na liderança isolada, já na segunda colocação ficou Cícero com uma vantagem mínima de apenas 672 votos na disputa contra Estela. No segundo turno os eleitores de Maranhão e Coutinho preferiram seguir ao lado de um nome mais à esquerda e elegeram Luciano com uma larga vantagem sobre Lucena.
Após sair do PT em 2015 e conseguir se reeleger em 2016, Cartaxo decidiu apoiar em 2020, a candidatura de sua Secretária Edilma Freire, que repetindo o caso de Estela não era muito conhecida pelos pessoenses. Outros 5 nomes apareciam com chances de segundo turno, o Ex-Governador Ricardo Coutinho (PSB), que havia rompido com João Azevêdo e chegava enfraquecido para a eleição após os primeiros desdobramentos da Calvário, Ruy Carneiro (PSDB), que havia sido derrotado por Coutinho em 2004, Wallber Virgolino (Patriota) que havia sido eleito Deputado Estadual em 2018 pautado no bolsonarismo, Nilvan Ferreira (MDB) que mesmo filiado a um partido de centro, sempre se colocou mais inclinado a extrema-direita e Cícero Lucena (PP).
O ex-Prefeito não disputou a reeleição ao Senado em 2014 e estava um tanto quanto sumido da vida pública. No começo da campanha acidenta pela pandemia, poucos acreditavam em sua vitória. Mas o derretimento de Ricardo e a falta de apoio a candidata de Cartaxo abriram as portas pra Cícero que conseguiu angariar votos de setores do centro e da esquerda que não queriam Nilvan ou Wallber vencendo. O primeiro turno foi incrivelmente mais disputado que 2012, com Cícero um pouco na frente ao atingir 20,72%, e Nilvan e Ruy disputando a segunda colocação voto a voto, com Ferreira indo disputar o segundo turno.
O ex-Prefeito conseguiu atrair aqueles que não desejavam o bolsonarismo na prefeitura, conseguindo vencer o segundo turno em uma porcentagem muito apertada e que demonstrava a polarização na qual o país vem se afundando nos últimos anos.
Pensando no tema da coluna, essa eleição é muito parecida com 2020 e 2012, a única diferença é que o atual Prefeito busca a reeleição. Cícero deve ter um posto no segundo turno, pois conseguiu eleger Mersinho, com uma ótima votação na cidade e terá o apoio da maioria dos Vereadores e principalmente do Governador João Azevêdo que será um cabo eleitoral importantíssimo em uma eleição que tem tudo para ser muito disputada.
Os outros quatro principais nomes que se ventilam tem bases eleitorais sólidas e totais condições de serem eleitos. Luciano Cartaxo teve uma gestão bem aprovada e quer angariar apoio na força de Lula e dos eleitores da esquerda que sentem falta de maior representatividade nos altos cargos da política paraibana. O problema de Luciano vai ser primeiro convencer o PT a ter uma candidatura própria e que aceite o seu nome em detrimento ao Ex-Governador Ricardo Coutinho, que tem uma relação próxima com o Presidente.
Nilvan e Sérgio Queiroz tem o mesmo problema são adorados por muitos e odiados por tantos outros. A chance deles irem longe na eleição, é o bolsonarismo continuar forte nesse um ano e meio que nos separam do pleito de outubro de 2024, com Nilvan parecendo ser um adversário mais pronto e competitivo.
No momento quem mais ameaça o Prefeito, é Ruy Carneiro. O Deputado Federal saiu da eleição de 2020 com um gostinho amargo de quem poderia ganhar de Cícero se conseguisse chegar no segundo turno. Ruy tem a seu favor ter a simpatia dos eleitores que não se identificam com Lula e Bolsonaro e daqueles que não aprovam a gestão de Cícero. Se a polarização continuar muito forte em 2024, é muito provável que nem PT e nem os candidatos da extrema-direita consigam ter sucesso, abrindo ainda mais o caminho de Ruy que sempre tenta se desgarrar desse tipo de rótulos eleitoreiros para atrair os eleitores indecisos.
Fonte: Vitor Azevêdo
Créditos: Polêmica Paraíba