O locutor anuncia entusiasmado e em pretenso tom de portador de uma revelação espetacular:
“Juliete está namorando Grazi Mazafera”.
Era a freqüência de uma das líderes de audiência pessoense e o formato padrão local: radiojornalismo político-partidário-especulativo-policialesco ao meio dia, seguido, antecedido, orbitado de “música da galera” até o talo.
O babadão polêmico sobre a paraibana mais badalada dos tempos de pandemia foi precedido por um hit pop requentado naquela batida arrastada a la João Gomes, Vaqueiro e afins.
Era Skank versão piseiro.
Muito cool.
Não tenho o hábito de escutar música em rádio.
As setas do aparelho no carro são teleguiadas a notícias.
E foi o noticiário que me levou até ali.
Fato é que, após a versão pop-vaquejada, entrou o locutor todo serelepe anunciando a tal notícia “bombástica” do mundo das celebridades.
Nem está na balança aqui a mediocridade destas relevâncias dadas a acontecimentos da vida pessoal de famosos, sejam eles instantâneos e afins.
Quer dizer, mandando a hipocrisia pra longe, está em jogo isso sim. É sobre isso e mais um monte de coisa.
É também acerca da evidência dada a editoria de fofoca nos veículos de comunicação.
Que o povo goste de xeretar a vida alheia, saber quem bulina quem, quais dormem de conchinha, quem baba na fronha de quem, ou o que for…
Mas transformar isso em “carro-chefe” de programação, como se vê em muitos canais por aí, é a assunção da indigência da comunicação!
Sigamos na esculhambação… da imprensa, friso. O romance das ex-BBBs, diga-se de passagem, fosse verdade, seria de ótimo gosto. Belo casal.
Mas é exatamente aí, na parte da mídia, que a “putaria radiofônica” vira “zona” de vez, se é que me entendem!?
O rapaz com o microfone na mão lia a notícia que se espalhou pelas redes com um tom de crença absoluta naquilo tudo.
Eu que, até aquele momento, não sabia a origem de nada, já percebia pelo teor da nota enunciada, que tratava-se de uma grande ironia original.
Mas ele continuava lendo a notícia mal redigida, escavada em um destes trocentos sites, blogs, inteiramente, destinados a caçar likes em torno da intimidade alheia.
Mesmo “feito a facão” o texto indicava que a declaração foi dada em um programa descontraído e se baseava em troca de duas mensagens de redes sociais entre ambas personagens envolvidas no bafafá.
Pior, a despeito da voz empolada, aveludada, a leitura era deprimente, titubeante, escorregando a cada sílaba, atropelando pontuação básica e sempre narrada com ar de verdade absoluta.
Claro que, o queridão com voz de “Toque Love” não tem obrigações técnicas jornalísticas, mas é um comunicador. Como tal, cabe a ele responsabilidade e busca de conhecimento básico sobre o que e como enuncia, incluindo aí as fontes utilizadas para subsidiar as notícias.
Mas quem deu a ele a autonomia de gerar conteúdo ao vivo? Quem permite a produção de notícia nas mãos de pessoas não habilitadas pra isso? Mesmo se tratando de futilidades cotidianas.
É a fofoca da fofoca.
Enquanto eu já me contorcia com aquele ultraje midiático, o cidadão ainda arrematou:
– E aí vocês aprovam o romance??
Calma, por favor. Não é para vocês me responderem aqui.
Mas então o que eu quero compartilhando tudo isso?
Além do hábito de reclamar, me indignar com a rasura conceitual de parte considerável da grande mídia e me espantar com o vazio conceitual da média??
Apenas reforçar denúncia de que os tios, tias, vós e vôs do zap, tão criticados, não brotaram aleatoriamente, nem são vítimas apenas da desinformação extra-oficial.
Nem só as correntes apócrifas de redes sociais, pequenos veículos criados e aparelhados com a missão de distorcer fatos cumprem o papel de disseminar meias verdades, ou as famigeradas fake news.
A crise na imprensa convencional, até o descrédito do jornalismo, a descrença na produção de notícias oficiais é, em boa parte, uma auto-sabotagem do próprio sistema.
Fonte: Marcos Thomaz
Créditos: Polêmica Paraíba