PT LANÇAR CANDIDATURA É FALTA DE VISÃO ESTRATÉGICA SOBRE A PARAÍBA
Quando Aécio Neves, candidato a presidente derrotado em 2014, deu início ao “dispositivo” que levaria ao golpe que afastou Dilma Rousseff da Presidência, primeiro pedindo a recontagem de votos, poucos foram os que publicamente se opuseram a essa conspiração. Começara o cerco à jovem e imatura democracia brasileira cujo desfecho se efetivou com a prisão de Lula.
Uma dessas poucas lideranças nacionais que se opuseram ao golpe contra o governo petista foi o governador recém reeleito da Paraíba, Ricardo Coutinho, que se insurgiu até mesmo contra a orientação do próprio partido para defender o mandato conquistado por Dilma nas urnas. RC foi à manifestações contra o impeachment, organizou um grande ato em defesa do mandato de Dilma, enfim, expôs-se numa confrontação absolutamente desigual porque, como ficou óbvio, a conspiração envolvia, entre outros setores poderosos do país, a mídia corporativa e o grande empresariado. Não só isso.
Consumado o impeachment, RC não apenas manteve-se na oposição ao novo governo como não tergiversou quando Michel Temer tentou amealhar para si as flores da obra da Transposição do Rio São Francisco e promoveu um ato histórico quando trouxe Lula a Monteiro para a inauguração popular da obra. Foi a primeira grande manifestação de apoio a Lula, onde ficaram registradas as imagens de carinho do povo nordestino por seu eterno presidente.
Tudo isso, ao que parece, o PT paraibano não levou em conta quando lançou a candidatura a prefeito de João Pessoa, em 2016, que eu mesmo erroneamente apoiei imaginando ser aquele um ato de rebeldia política contra os “golpistas”. Não era. Era apenas a expressão de uma certa incapacidade de fazer a grande política, que obriga quem a faz a pensar no longo prazo e, por isso mesmo, a lidar com aparentes contradições que, no curto prazo, parecem negar os grandes objetivos. Se Lula pensasse como as lideranças do PT paraibano ele seria lembrado hoje apenas como um bom candidato a presidente, derrotado em quatro eleições seguidas.
Felizmente, Lula foi capaz de, sem esquecer os objetivos que moldaram sua vida política e sua personalidade, construir alianças para chegar ao governo e tornar-se o Lula que hoje lutamos por ele. Lula tornou-se o Lula de hoje ao longo do seu governo. Foi nesse trajeto que ele definiu com clareza os limites de suas vontades e o tamanho dos obstáculos que ele tinha a superar para governar para os mais pobres e pela soberania do país.
É fácil para os detratores de Lula hoje apontarem o dedo para as alianças que ele fez ao longo do seu governo para fazer seu projeto de governo avançar, um governo que logrou tirar dezenas de milhões da fome e da pobreza absoluta, que foi capaz de aumentar e de forma constante a participação dos salários na renda nacional, que tornou o Brasil mais soberano e independente, que dobrou o número de alunos nas universidades federais, que triplicou os do ensino técnico e tecnológico, sem falar nos milhões que foram às universidades privadas via Prouni.
Lula teria feito isso sem as alianças no parlamento que ele foi obrigado a fazer? É certo que Lula cometeu erros, mas quando observamos retrospectivamente, sobretudo depois do que veio após a queda de Dilma Rousseff, é impossível não reconhecer que foi o gênio político de Lula que, reconhecendo suas próprias limitações, não de sua força como indivíduo, mas de uma correlação de forças desigual para as forças sociais que lutam por projetos transformadores em países como o Brasil. No caso da Paraíba, e quem se der ao trabalho de pesquisar, em todo o Nordeste, a vitória de projetos como o que Ricardo Coutinho lidera na Paraíba não aconteceram sem as alianças com grupos e partidos conservadores.
Na Bahia, em Sergipe, em Alagoas, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte, no Ceará, no Piauí, no Maranhão, não há um exemplo sequer que fuja a essa constatação. Em meio a esses governos, muitos são do PT e em todos eles não há registro de chapa puro-sangue da esquerda. E para mencionar apenas um caso recente, o governador petista do Ceará, Camilo Santana, terá como companheiro de chapa a uma das vagas ao Senado nada mais nada menos que o “golpista” Eunício de Oliveira (PMDB), atual Presidente do Senado.
O PT paraibano rejeitaria nesse caso o apoio? Mais ainda. Aqui, o PT parece não aprender com os próprios erros. Novamente para não votar em “golpista”, o PT resolveu lançar candidato a prefeito de João Pessoa em 2016. Com isso, não apenas ficou fora do debate real, como diminuiu sua bancada de vereadores, e, de quebra, deu sua generosa contribuição à eleição de Luciano Cartaxo, que acabara de abandonar o partido no pior momento de sua história para aderir ao golpe e aliar-se a inimigos históricos do PT (Cássio Cunha Lima e o PSDB).
Ao anunciar a disposição de lançar candidatura própria o PT paraibano parece querer repetir o mesmo erro de dois anos atrás. Mostra também que falta visão de longo prazo e a respeito dos objetivos estratégicos do partido na Paraíba e no Brasil. Sem nomes competitivos para lançar ao Senado – o deputado Luiz Couto já disse que é candidato à reeleição, – e mesmo assim insistir na candidatura de outro petista apenas para marcar posição, o partido contribui agora com a eleição de Cássio Cunha Lima, que deve agora estar aos pulos de alegria comemorando a decisão do PT.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Flávio Lúcio Vieira