Política

PT, 45 anos: o partido nunca conseguiu eleger um governador na Paraíba - Por Nonato Guedes

PT, 45 anos: o partido nunca conseguiu eleger um governador na Paraíba - Por Nonato Guedes
O Partido dos Trabalhadores celebrou 45 anos de fundação com um evento no Rio de Janeiro que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com ensaios de “mea culpa” diante do desgaste enfrentado pela legenda e, sobretudo, pelo governo do seu líder maior, que pela terceira vez ocupa a cadeira no Palácio do Planalto sem exibir a desenvoltura das outras gestões nem apresentar novidades à sociedade brasileira. Em relação à Paraíba, o PT nunca conseguiu eleger governador nem senador, mantendo representação apenas na Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa e o controle de uma prefeitura na região do curimataú. Houve apenas um momento em que o partido chegou na ante-sala do poder estadual: em 2009, quando o emedebista José Maranhão foi chamado pela Justiça Eleitoral a assumir o Executivo tendo como vice o petista Luciano Cartaxo. Ambos haviam disputado a eleição de 2006 e foram derrotados por Cássio Cunha Lima (PSDB), que mais tarde teve o mandato cassado sob alegação de conduta vedada e improbidade administrativa. Em 2010, quando tentou a reeleição, com outro nome do PT, Rodrigo Soares, Maranhão foi novamente derrotado.
  
O PT chegou a ocupar a prefeitura de João Pessoa, também com Luciano Cartaxo, que, no entanto, desfiliou-se da legenda no episódio do mensalão, dizendo-se decepcionado com as denúncias de “caixa dois” que foram apontadas na época, e posteriormente retornou às fileiras da agremiação. Em Campina Grande, a sindicalista Cozete Barbosa que era vice de Cássio Cunha Lima assumiu a titularidade do cargo com a saída deste para concorrer a cargos maiores mas não conseguiu se projetar positivamente no posto. A primeira direção executiva estadual do PT foi oficializada no dia 06 de setembro de 1981, tendo como presidente Eliezer Gomes, que era trabalhador do almoxarifado de uma empresa metalúrgica e fazia parte da direção do Sindicato dos Metalúrgicos. Todavia, a fundação oficial do PT na Paraíba se deu no dia 10 de agosto de 1980 com a presença de Lula, que participou de atividades em João Pessoa e outras cidades do Estado. No dia 13 de setembro, o PT/PB pediu seu registro provisório, depois de conseguir preencher todos os requisitos exigidos pela lei de reorganização partidária.
  
 No livro sobre a construção da trajetória do partido no Estado, Paulo Giovani Antonino Nunes informa que na sequência da fundação oficial do PT o partido enfrentou uma série de problemas numa fase marcada por constantes conflitos internos que levaram à saída de um grupo de militantes por discordância com a linha política adotada diante da conjuntura, a não aceitação de lideranças estaduais que aparentemente pretendiam se filiar ao partido, a expulsão de militantes que não se adequaram às concepções éticas do partido, além do fracasso nas eleições estaduais e municipais de 1982. Vale ressaltar que já em 1982 o PT paraibano lançou candidatura própria ao governo, na figura do advogado Derly Pereira, que ficou imprensado entre as candidaturas de Antônio Mariz (PMDB) e Wilson Braga (PDS), o eleito. Em março de 1981 aconteceu o primeiro “racha” da agremiação no Estado com a saída de um grupo de militantes liderados por Wanderly Farias, membro da Comissão Regional e Nacional do PT e um dos principais articuladores da fundação da legenda na Paraíba. Wanderley era expoente do petismo juntamente com Sônia Germano, mas entrou em rota de colisão ao defender uma Constituinte, que não era bandeira petista.

Um dos episódios dramáticos da trajetória do PT na Paraíba se deu com a punição imposta ao deputado estadual Ricardo Coutinho, que já era uma liderança emergente no final dos anos 90 e início dos anos 2000 e que era um forte nome para concorrer à prefeitura de João Pessoa. Ele ensaiou movimentos nessa direção para o pleito de 2004, mas foi vítima de intensa queimação interna, que explodiu em sucessivas assembleias e reuniões internas da cúpula do Partido dos Trabalhadores. A crise com Ricardo Coutinho trouxe dirigentes nacionais petistas à Paraíba, mas não houve espaço para uma solução conciliadora. O resultado foi o desligamento de Ricardo das fileiras do petismo com seu ingresso no PSB, pelo qual se elegeu prefeito em 2004, sendo reeleito em 2008. Em 2010, na escalada ascendente que experimentava, Ricardo foi eleito governador pela primeira vez, fazendo dobradinha com Cássio Cunha Lima ao Senado. Em 2014, ele derrotou Cássio na disputa ao governo estadual e em 2018 empenhou-se ativamente para derrotar Cunha Lima na reeleição ao Senado, o que se concretizou. Com seu estilo personalista e centralizador, Ricardo acabou rompendo em 2019 com João Azevêdo, a quem havia apoiado à sua sucessão e que se elegeu em primeiro turno. Na época, os dois militavam na seara do PSB, do qual Coutinho se desligou para retornar ao Partido dos Trabalhadores. Em 2022, concorreu a uma vaga ao Senado pelo PT, em condição “sub-judice”, e ficou em terceiro lugar, atrás de Efraim Filho, do União Brasil, o eleito, e de Pollyanna Dutra (PSB), que ficou em segundo lugar.

O PT na Paraíba, sob a liderança proeminente de Ricardo, apesar dele não exercer formalmente cargo de chefia, convive com uma militância desmobilizada e com a falta de renovação de quadros. Nas eleições municipais de 2024 em João Pessoa, decisões do diretório municipal foram desrespeitadas sumariamente pela Executiva Nacional que impôs a candidatura de Luciano Cartaxo tendo como vice a esposa de Ricardo Coutinho, Adriana Rodrigues. A chapa foi despachada para o quarto lugar no cômputo geral. Atualmente o partido prepara-se para a renovação de direções estadual e municipais, em clima de autofagia entre os seus membros. O futuro do partido é incerto no Estado, até mesmo pela resistência de petistas ortodoxos a alianças com partidos do chamado eixo tradicional.