
Não é fácil viabilizar a construção de uma federação entre Progressistas e União Brasil em Estados como a Paraíba, onde há antagonismos políticos concretos, embora prosperem canais de diálogo entre líderes dos dois partidos, decorrentes de boas relações pessoais entre nomes como o senador Efraim Filho, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro e o deputado Mersinho Lucena, filho do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena. Na atual conjuntura, os Ribeiro estão profundamente alinhados com o governador João Azevêdo (PSB), com a presença de Lucas Ribeiro, filho da senadora Daniella (sem partido) como vice-governador e aspirante à indicação como pré-candidato ao governo do Estado. Na campanha de 2022, João ofereceu a vaga ao Senado na sua chapa a Aguinaldo Ribeiro, que a refugou, preferindo pleitear a reeleição, o que acabou abrindo espaço para a ascensão de Efraim Filho, um dissidente do bloco governista. Lucas foi, então, indicado como representante do “clã” ocupando a vaga de candidato a vice-governador, renunciando à vice-prefeitura de Campina Grande que ocupava na gestão de Bruno Cunha Lima (União Brasil).
Efraim Filho, por sua vez, sacramentou aliança com o grupo Cunha Lima, disputando o Senado na chapa encabeçada pelo ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSDB), que conseguiu avançar para o segundo turno. A dupla passou a contar, a partir do segundo turno daquela disputa, com a adesão do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), um aliado do presidente Lula que, no entanto, age com autonomia política no Estado e desde então passou a trabalhar com vistas à sua reeleição no pleito de 2026. É cada vez mais sólida essa aliança no campo oposicionista local, com Efraim colocando-se à disposição para concorrer ao Executivo no próximo ano, o mesmo acontecendo com Pedro Cunha Lima e com o deputado federal Romero Rodrigues, que é do Podemos. O trio combate ostensivamente o governo de João Azevêdo e seus aliados políticos como o “clã” Ribeiro e o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena. A federação entre PP e UB levaria a rompimentos na base do governador João Azevêdo, como poderia acarretar defecções no bloco oposicionista, dependendo dos termos da aliança em âmbito estadual.
A proposta, por enquanto, não passa de uma incógnita até porque, como previsto, líderes dos dois lados já duelam pela conquista de espaços de protagonismo num virtual novo cenário que viesse a ser desenhado. Se o critério sobre quem vai dar as cartas nos Estados for o número de cadeiras na Câmara Federal, o PP larga em vantagem por ter dois deputados (Aguinaldo Ribeiro e Mersinho Lucena), enquanto o União possui apenas Damião Feliciano. Efraim adverte, porém, que o seu partido possui um mandato no Senado até 2030, que é o seu, enquanto o mandato da senadora Daniella Ribeiro expira no começo de 2027 – e, além do mais, a senadora está atualmente sem partido, dado que se desfiliou do PSD após a reviravolta que deu o comando dessa legenda na Paraíba ao ex-governador Cássio Cunha Lima e seu filho, o ex-deputado Pedro, recém-desfiliados do PSDB. Em termos de prefeituras, o PP controla a da Capital e a de Santa Rita, enquanto o União tem hegemonia em Campina Grande e Guarabira. Na Assembleia Legislativa, a divisão de forças é equilibrada, sendo que o União conta com o reforço de deputados que agora passam a formar no PSD.
O grande impasse, todavia, parece residir, mesmo, na definição de candidatura ao governo do Estado, já que tanto o PP, com o nome de Lucas Ribeiro e o União Brasil, com o auto-lançamento do senador Efraim Filho, consideram-se no páreo para um enfrentamento nas urnas em 2026. Como alternativa, o PSD de Cássio põe na mesa, novamente, o nome de Pedro Cunha Lima, enquanto no bloco de João Azevêdo há nomes do Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta e do próprio PSB. Para além dessas ambições pontuais, sobressai a questão da convivência entre contrários na realidade política paraibana. Há restrições que ficam obscurecidas pela possibilidade de entendimento que agora está se abrindo, mas que são de conhecimento da opinião pública do Estado, e cuja superação rápida, em nome do pragmatismo político, poderia soar incoerente, desgastando os grupos que tentam impor uma reviravolta no cenário local. Há que se levar em conta, também, a pressão dos aliados de ocasião tanto sobre Efraim Filho como sobre Aguinaldo Ribeiro para que não tentem um “laboratório” complicado em eleições que estão batendo à porta.
A proposta de federação partidária, no Brasil, tem sido um artifício engenhoso de cúpulas nacionais de legendas com o intuito de se fortalecerem, adquirindo capilaridade para a disputa eleitoral mediante disponibilidade de maior tempo de televisão, acesso a um maior volume de recursos do fundo partidário e perspectiva de aumento do número de bancadas no Congresso Nacional. São teses agitadas, em princípio, a partir dessas cúpulas, sem consulta prévia às instâncias regionais ou locais, que são praticamente forçadas a criar condições de sobrevivência e de convivência nos redutos em que atuam, encarando as diferenças que são remanescentes de embates em outros carnavais. É uma construção árdua, difícil, uma espécie de “parto laborioso”, que, no entanto, tem prazo rápido para se concretizar ou não. Na Paraíba, há expectativa sobre os rumos que serão dados e sobre a viabilidade ou não dessa empreitada arriscada.