Eu não queria. Juro que eu não queria voltar aqui para falar de laranjal, pomar governamental, não queria! Até por quê achei que já havia dito tudo o que deveria dizer sobre esse vergonhoso escândalo (eu sei que o fato de ser escândalo já é, por si, vergonhoso), mas torna-se bem mais quando o escândalo acontece nas hostes de uma agremiação partidária como o PSL, um partido novo que pretende (ou pretendia) ser diferente e que tem como seu representante maior, ninguém menos que o presidente da república!
O Brasil inteiro tem consciência que o governo que ai está foi eleito sob a égide da honestidade absoluta e totalmente avesso as falcatruas e ao chamado “jeitinho brasileiro”, do qual sempre se pautaram os maus políticos. Mas por aqui sempre funcionou assim! De outra forma não tem como funcionar! A coisa sempre existiu e foi tornando-se algo normal a cada eleição! Está sem fazer nada? Acabou de sair da faculdade, ou nem precisou de uma e não encontra o que fazer? Arranja um meio de se candidatar a algum cargo eletivo – prefeito, deputado, governador, senador, presidente da república ou então, vereador – e quem sabe descola um bom salário fácil (e até aposentadoria)! Não tem dinheiro? Sem problema! Lembra do “jeitinho brasileiro” a que me referi ainda nesse parágrafo? É sempre assim que se resolve. Tem quem dê um jeitinho! Sempre tem!
Mas então, se já posso ter dito tudo o que penso sobre o laranjal denunciado, o que me fez voltar a comentar esse assunto tão azedo? É que surgiu algo novo que me impede de calar! Ver o ex-juiz, Sérgio Moro, ministro da Justiça do governo do laranjal, vir a luz e defender candidamente o seu patrão como se crime nenhum tenha sido praticado em toda essa história, fica difícil deixar passar!
As últimas notícias dão conta de que Haissander Souza de Paula, assessor parlamentar de Álvaro Antônio à época e coordenador de sua campanha a deputado federal no Vale do Rio Doce (MG), acabou envolvendo o presidente Bolsonaro no laranjal do PSL. Ele disse em seu depoimento à PF que ‘acha que parte dos valores depositados para as campanhas femininas, na verdade, foi usada para pagar material de campanha de Marcelo Álvaro Antônio – hoje ministro do Turismo – e de Jair Bolsonaro’, segundo matéria publicada na Folha de S. Paulo. O ministro já foi indiciado pela PF e denunciado pelo Ministério Público, mas mesmo assim Bolsonaro decidiu mantê-lo no cargo.
De uma forma que beira a subserviência, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, saiu em defesa de Jair Bolsonaro ao negar que ele esteja implicado de alguma forma no esquema de candidaturas laranjas do PSL em Minas Gerais que levou ao indiciamento do ministro do Turismo. Em uma postagem no Twitter, Moro afirmou que Bolsonaro fez a “campanha presidencial mais barata da história”. (Então pode!) O vazamento da informação do indiciamento do titular da pasta do Turismo foi vista como uma espécie de retaliação da PF às tentativas de interferência na corporação feitas por Bolsonaro.
E ai estamos de volta as interrogações: Tem cabimento, uma autoridade do porte do ex-juiz, caçador de corruptos, defensor da legalidade, respeitado e acreditado por tantos brasileiros como um verdadeiro paladino da justiça e (Super-homem inflado nas manifestações patriotas regadas a gás de pimenta), vir a público defender um crime – que se fosse cometido por qualquer outro partido ou político fora das hostes palacianas já estaria condenado sem direito a justificativas ou qualquer defesa – e tentar minimiza-lo com uma justificativa que não condiz com a fama que já conquistou? Dizer que o crime se descaracteriza pois Bolsonaro fez a “campanha presidencial mais barata da história”! Isso é vergonhoso! Dois pesos e duas medidas?
Para uns é considerado crime. Para o partido do seu presidente, não? Dentre os muitos “descontos” oferecidos pelo ministro, está – por exemplo – fazer vistas grossas ao possível crime do chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, quando em 2017, foi citado na delação dos irmãos Batista por ter recebido 200 mil reais em caixa dois da JBS para quitar gastos de campanha em 2014 e admitiu o ocorrido em entrevistas, apesar de ter calculado um valor menor (100 mil reais).
Em entrevista coletiva, Moro apontou que Lorenzoni “admitiu o erro, pediu desculpas e tomou providências para repará-lo”. Tudo resolvido. Tudo explicado!
Essa decisão de Sérgio Moro levou o então senador Roberto Requião do MDB do Paraná a protocolar o projeto da “Lei Ônix Lorenzoni”. Ele define que a “a critério do juiz, poderá ser concedido perdão judicial em caso de crimes eleitorais, contra administração pública ou contra o sistema financeiro nacional, desde que o réu atenda às seguintes condições: I – demonstre arrependimento; II – confesse a prática do crime; e III – apresente pedido público de perdão e de dispensa da pena.”
Mas há quem defenda que o ministro Moro está coberto de razão! “Para os amigos, tudo. Aos inimigos aplicamos a lei! Não se sabe quem é o autor da frase, (há quem atribua a Getúlio Vargas) mas ela reflete direitinho quem somos nós, brasileiros! E é exatamente no país das contradições que observamos essas pessoas. Assim como são e agem os seu líderes, acabam agindo, também! Funcionam essas autoridades, de ações – muitas vezes – controversas, como verdadeiros espelhos para a sociedade! Se eles podem, porque não podemos? E assim seguem os toscos entendimentos e aceitações. O que é uma pena e, para a humanidade parece não haver conserto!
Principalmente uma parcela dos brasileiros, ou não entendem bem o que lhes está ocorrendo, ou aceitam por que não lhes afeta o mal que está sendo aplicado, ou são apenas partícipes do projeto de demolição implantado no país em apenas oito meses de administração. O país está queimando? Os crimes de ódio estão se alastrando? Matar negros e jovens já é algo banal? Ser conhecido lá fora como o país da impunidade já não nos envergonha?
Se depois de tudo dito, mesmo assim você não se abala, então tem algo muito errado com esse país! Se você não se sente atingido, não sofre agora as consequências, por que é jovem e não precisa de aposentadoria, o problema deveria ser só seu! Mas as maldades estão sendo impostas a um país inteiro. Você é cúmplice disso e de bônus não lhe será dado nada. Muito cuidado. Você é ínfimo, é minoria e não demora, será a sua vez!
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Francisco Aírton