Necessidade

PODRES PODERES: O necessário inconformismo diante da passividade popular com o autoritarismo político - Por Rui Leitão

Em 1984, quando Caetano lançou a canção "Podres Poderes", o Brasil vivia um movimento político em favor da redemocratização, com o povo nas ruas reivindicando o direito de eleger seus governantes(DIRETAS JÁ).

Em 1984, quando Caetano lançou a canção “Podres Poderes”, o Brasil vivia um movimento político em favor da redemocratização, com o povo nas ruas reivindicando o direito de eleger seus governantes(DIRETAS JÁ). Mas ele questionava se estávamos realmente conscientes da necessidade dessa luta. A letra dessa música, nos convida a refletir sobre a nossa capacidade de reagir, se posicionar contra erros, injustiças sociais, cerceamento de liberdade no agir e no pensar, ataques aos nossos direitos individuais, posturas autoritárias dos que assumem a responsabilidade de nos governar.

“Enquanto os homens exercem seus podres poderes/motos e fuscas avançam os sinais vermelhos/e perdem os verdes/somos uns boçais…” …”Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo/daqueles que velam pela alegria do mundo…/indo mais fundo/tins e bens e tais”.

Caetano expressa seu inconformismo com a passividade do povo diante do autoritarismo político, que desrespeita o conceito de democracia. Enquanto os políticos agem afrontosamente na prática da corrupção, fica a impressão de que tudo acontece normalmente na vida da gente. As pessoas também compartilham dessa forma ilícita de agir, desobedecendo os sinais de alerta dos semáforos, sem dar atenção cuidadosa ao sinal verde. Tornamo-nos cúmplices da anarquia, das trapaças e da desonestidade.

Gostaria de poder bradar em voz alta, repetidas vezes, em apoio às atitudes burguesas de uma parte da sociedade que se acha dona do pensamento político nacional. Mas isso é impossível. Seria contrariar o amor próprio. Faz críticas a parte da Igreja Católica que apoiou as ditaduras da América Latina. E indaga: será que vamos nos manter assim, mostrando-nos incompetentes para romper com o estado de submissão aos “ridículos tiranos”? Vamos ter que ficar por muito tempo ainda batendo nessa tecla, produzindo discursos estéreis, sem transformá-los em ações práticas?

Enquanto estamos sendo massacrados pelos “podres poderes”, a população, mesmo os que se acham na linha marginal da sociedade, se mostra indiferente ao que possa está acontecendo, fica num eterno clima de carnaval, de festa.

Ele diz que não consegue silenciar diante das indecências políticas. Mesmo que tudo, ainda que muito mau, seja encarado com naturalidade. O sangue vertido pelos excluídos sociais, nos rincões ignorados pelos poderosos, nas periferias desprotegidas pela elite dominante, não sensibiliza a maioria para acordar e sair da postura burra da inércia. E volta a indagar: será que só através das manifestações culturais, do grito dos artistas, citando Hermeto Pascoal, Tom Jobim e Milton Nascimento (hermetismo pascoais, e os tons, mil tons), conseguiremos promover a revolução social e política que estamos a precisar?

Muito triste observar, como sendo algo normal, pessoas morrerem e matarem de fome, de raiva e de sede. Decide, então, aproximar o seu cantar, que chama de vagabundo, daqueles que continuam acreditando que podem mudar a situação. Unir-se a quem se dispõe a ir em frente empunhando a bandeira de luta pela igualdade, pela liberdade e pela justiça social. Se aprofundar nesse embate.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba