Na Paraíba eu acredito que estejamos vivendo um tempo em que o poste urine nos cães e que os bandidos prendam os policiais que andam soltos nas ruas. Apenas assim eu conseguirei compreender como que um grupo de fiéis leigos se achou no direito de endereçar uma carta conjunta ao Arcebispo Metropolita da Paraíba, Dom Manoel Delson, buscando conduzi-lo a se posicionar contra o presidente da República, Jair Bolsonaro. Distante de mim ser apoiador de Bolsonaro ou muito menos seu algoz, ainda mais distante de mim acreditar que homens de fé como Dom Delson precisem manter-se alheios a questões sociais como a política.
A grande questão não está num silenciar ou acusar Bolsonaro, não está no fato da assinatura do arcebispo estar ou não presente na carta enviada por membros da CNBB ao Papa Francisco criticando o chefe do executivo nacional, mas está na insubordinação de um grupo de pessoas que deveriam ouvir a voz do seu pastor e como fiel rebanho seguir os seus passos, buscando unicamente a salvação atemporal. Mas o que estes desejam não é um bispo, é um Che Guevara de batina, buscam que o bispo seja um militante, que se posicionando politicamente atenda aos seus anseios e suas crenças.
A existência de cartas escritas por leigos, como são conhecidos os fiéis católicos que não são possuidores de batinas, tentando pressionarem o arcebispo a assumir uma posição é um verdadeiro ultraje. Como podem estes se acharem em condições de mandarem naquele a quem eles deveriam obedecer? A necessidade desta ultrapolitização, que alguns possuem em relação aos seus bispos, é o saldo que restou ao Brasil da ação de bispos e sacerdotes que agiram mais como entes políticos do que pastores.
Estes devem entender que cabe ao povo não escrever cartas ao bispo, mas se unir enquanto pessoas religiosas e rezar por uma realidade melhor, mas a ação que tomaram demonstra um povo muito mais preocupado com o temporal e com a política do que com o espiritual. Na Paraíba, exemplo de bispos e padres que tiveram a coragem de se posicionarem politicamente sem que isso lhes afastasse da real importância da Igreja não são poucos.
Dom José Maria Pires, talvez o maior dos exemplos, o quarto arcebispo de nossa diocese nunca escondeu de ninguém a sua escolha primordial pelos pobres e pelos excluídos. Mas aquela, antes de uma ação política era uma ação óbvia de fé, quando a própria Igreja propõe a criação de uma sociedade sem excluídos e que as diferenças entre ricos e pobres seja entre poder ou não ter o supérfluo, e não entre ter ou não aquilo o que comer. Dom José Maria Pires foi importante para o surgimento das causas sociais em um momento de um Brasil que não olhava para os mais pobres, mas nem apenas de causas sociais é feita a Igreja.
Outro bispo, de saudosa memória em nosso território, foi Dom Aldo Pagotto. Talvez muitos esqueçam da importância que o metropolita da Paraíba, que faleceu em 2020 vítima da covid-19, teve para que fosse iniciada a construção da transposição do Rio São Francisco. Naquele momento também Dom Aldo fazia questão de ficar do lado dos pobres, dos excluídos, do povo sertanejo sofredor. Pois a pior das mazelas que o povo nordestino sempre enfrentou foi a falta de água para beber e para aguar suas plantações. Foi Dom Aldo que em um momento crítico da disputa para que a transposição fosse aprovada e beneficiasse a Paraíba e Pernambuco, terras que lhe eram caras, ameaçou até mesmo fazer greve de fome.
Mas a sutileza nas ações de Dom Adaucto, Dom Moisés, Dom Mário, Dom José, Dom Marcelo e Dom Aldo estava no fato de que eram decisões autênticas, que nunca haviam sido forçadas por ninguém, muito menos por aqueles que deveriam segui-los. Aparentemente na Capital da Paraíba, onde já surgiram e viveram grandes sacerdotes, já não são os padres que dizem amém ao final da missa, mas o próprio povo que se abençoa e diz ao sacerdote que vá em paz.
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Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba