PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Tempo dos quintais - Por Sérgio Botelho

Não precisa ir tão distante assim, no tempo, para lembrar dos quintais que marcavam as casas no Centro de João Pessoa, como é exemplo o da foto, na casa do cônego Marcelo Firmo, na General Osório, que vai até a Rua São Mamede. Quintais que atravessavam o comprimento de quarteirões, alcançando os das ruas paralelas.

A cidade, durante séculos, foi assim, no seu hoje chamado Centro Histórico, com os quintais servindo como extensões das casas, espaços vivos, verdadeiros oásis de convivência e significados múltiplos. Nos quintais, as famílias cultivavam hortas, árvores frutíferas e até pequenas criações. Eles serviam de comunicação entre vizinhos, por cima dos muros, palco de brincadeiras infantis e, em muitas ocasiões, refúgio para momentos de introspecção e descanso.

Era um tempo em que a cidade respirava junto com seus moradores. Isso porque nos quintais, a vida comunitária e a intimidade familiar se encontravam. A importância dos quintais vai além da estética verde a compor o cenário urbano. Eles sempre constituíram espaços de sustentabilidade, onde o cultivo de plantas alimentava a mesa e fortalecia uma conexão íntima com a terra. Mangueiras, cajueiros, bananeiras e coqueiros mais baixos dominavam a maioria dos quintais pessoenses, trazendo ao cotidiano um sentido de continuidade e pertencimento, elementos que, com o tempo, foram se perdendo conforme a cidade foi mudando sua configuração urbana.

Nos quintais, aconteciam o reforço de saberes e culturas: o jeito de podar uma planta, o melhor tempo para colher, o cuidado com a água. A urbanização acelerada transformou parte desses quintais em terrenos para novos empreendimentos, alterando, assim, os aspectos social e afetivo da cidade. A verticalidade das construções atraiu a população para apartamentos cada vez mais afastados do Centro. Mas na memória dos que viveram esse tempo, permanece a lembrança dos quintais e de sua vitalidade, dos cheiros e sabores que ali germinavam e das relações que floresciam em sua sombra.

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.