Ontem recebi de um amigo, construído no Whatsapp, ao correr dessas crônicas diárias, foto de um meio-fio de pedra calcárea na rua Braz Florentino, a da Cachaçaria Philipeia, lamentavelmente bastante estragado. Outro dia, publiquei imagem semelhante relativa à Ladeira Feliciano Coelho, ali bem pertinho. Para completar, tanto em um quanto em outro local o leito da rua foi montado em pedras desiguais. Na Rua da Areia, ao menos naquela parte onde funcionaram o Guaraná Dore, a Fábrica de Vinhos Tito Silva e o velho Cabaré de Irene, por trás da antiga Fábrica de Cigarros Popular, também o leito da rua é feito dessas pedras. Nesses locais, o calçamento original vai sendo descoberto à medida que se desgasta a camada de asfalto derramada por sobre o leito de pedras. A escolha dos materiais, como a pedra calcária, e o uso das pedras não regulares no pavimento remetem a um tempo em que o urbanismo se construía a partir dos recursos locais e das técnicas de época. Esse tipo de pavimento possui uma qualidade estética que se harmoniza com as construções antigas, reforçando a identidade da cidade como espaço de grande valor histórico e cultural. O que deveria ser feito, então, recobrir os leitos das ruas com nova camada de asfalto, e mudar os meios-fios, ou restaurar esses detalhes para manter o conceito histórico? Conheci cidades de Goiás (como a Goiás Velho, da poeta Cora Coralina), menos antigas do que João Pessoa, onde é muito forte o turismo cultural e histórico, em que esses detalhes de antigamente são bastante preservados, motivo de orgulho para os seus habitantes, e de imensa admiração para os turistas. Embora não sejam naturais da cidade, os visitantes identificam nela sinais da história de suas próprias urbes. Então, está respostada a dúvida: a preservação é um compromisso nacional e, mesmo, global, pois mantém viva a memória de práticas ancestrais, valorizando os aspectos históricos da paisagem urbana e promovendo um sentido de pertencimento e continuidade para as gerações atuais e futuras.
Visão