Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Simplesmente, Lagoa - Por Sérgio Botelho

Prosseguindo com as histórias de logradouros cujos nomes consagrados pelo uso preponderaram sobre as denominações oficiais

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Simplesmente, Lagoa - Por Sérgio Botelho

Prosseguindo com as histórias de logradouros cujos nomes consagrados pelo uso preponderaram sobre as denominações oficiais, em João Pessoa, necessariamente temos de chegar ao Parque Solon de Lucena.

O corpo d’água ali existente, conhecido como Lagoa dos Irerês, homenageava seus originais habitantes, bandos de charmosos marrecos malandros e assobiadores.

Antes das intervenções urbanísticas da década de 1920, a Lagoa dos Irerês era um elemento natural da cidade – espaço de referência geográfica, ainda que problemático, por ser tido como foco de doenças.

Quando o presidente Solon de Lucena (que presidiu a Paraíba entre 1920 e 1924) promoveu seu saneamento e requalificação, era natural que a nova configuração do espaço recebesse seu nome como tributo.

No entanto, para a população, a essência do lugar permaneceu a mesma, ou seja, simplesmente Lagoa, onde os irerês, que desapareceram um dia — na certa, descontentes com o crescimento da cidade —, acabaram perdendo a condição de homenageados.

Novamente, em João Pessoa, a permanência do batismo popular ocorreu porque a relação sentimental e histórica da população com o lugar se impôs. As intervenções que acabaram transformando muito positivamente o lugar não apagaram a identidade construída pelo costume.

Além disso, o nome oficial, longo e pouco prático, acabou não funcionando no dia a dia, enquanto a simplicidade de “Lagoa” facilitava a comunicação e mantinha a ligação com a memória ancestral da urbe. Isso aconteceu e se firmou mesmo que novas gerações nunca tenham conhecido a Lagoa dos Irerês, como tal.

No entanto, herdaram, dos mais velhos, a maneira de se referir ao espaço, revelando, mais uma vez, como a oralidade e os costumes urbanos são muitas vezes mais fortes do que qualquer decreto.

Portanto, o Parque Solon de Lucena pode ser um nome oficial e até inscrito em documentos, mapas e placas, mas a cidade o reconhece apenas como Lagoa – pelo que sempre foi para o povo pessoense.

Na foto, uma visão parcial da Lagoa do Parque Solon de Lucena

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.