
Prosseguindo com as histórias de logradouros cujos nomes consagrados pelo uso preponderaram sobre as denominações oficiais, em João Pessoa, necessariamente temos de chegar ao Parque Solon de Lucena.
O corpo d’água ali existente, conhecido como Lagoa dos Irerês, homenageava seus originais habitantes, bandos de charmosos marrecos malandros e assobiadores.
Antes das intervenções urbanísticas da década de 1920, a Lagoa dos Irerês era um elemento natural da cidade – espaço de referência geográfica, ainda que problemático, por ser tido como foco de doenças.
Quando o presidente Solon de Lucena (que presidiu a Paraíba entre 1920 e 1924) promoveu seu saneamento e requalificação, era natural que a nova configuração do espaço recebesse seu nome como tributo.
No entanto, para a população, a essência do lugar permaneceu a mesma, ou seja, simplesmente Lagoa, onde os irerês, que desapareceram um dia — na certa, descontentes com o crescimento da cidade —, acabaram perdendo a condição de homenageados.
Novamente, em João Pessoa, a permanência do batismo popular ocorreu porque a relação sentimental e histórica da população com o lugar se impôs. As intervenções que acabaram transformando muito positivamente o lugar não apagaram a identidade construída pelo costume.
Além disso, o nome oficial, longo e pouco prático, acabou não funcionando no dia a dia, enquanto a simplicidade de “Lagoa” facilitava a comunicação e mantinha a ligação com a memória ancestral da urbe. Isso aconteceu e se firmou mesmo que novas gerações nunca tenham conhecido a Lagoa dos Irerês, como tal.
No entanto, herdaram, dos mais velhos, a maneira de se referir ao espaço, revelando, mais uma vez, como a oralidade e os costumes urbanos são muitas vezes mais fortes do que qualquer decreto.
Portanto, o Parque Solon de Lucena pode ser um nome oficial e até inscrito em documentos, mapas e placas, mas a cidade o reconhece apenas como Lagoa – pelo que sempre foi para o povo pessoense.
Na foto, uma visão parcial da Lagoa do Parque Solon de Lucena
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.