Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Rua da Areia - Por Sérgio Botelho

Quem transita pela rua da Areia nos tempos de hoje (aliás, situação que perdura há décadas) não tem ideia do brilho que ela teve até início do Século XX. Apesar de ter herdado o seu nome de episódio pouco glamoroso (como já disse no post anterior, por conta da quantidade de areia que escorria ladeira abaixo em tempos de chuva), a rua foi de muito requinte e graça durante bom tempo.

Foto: Internet

Quem transita pela rua da Areia nos tempos de hoje (aliás, situação que perdura há décadas) não tem ideia do brilho que ela teve até início do Século XX. Apesar de ter herdado o seu nome de episódio pouco glamoroso (como já disse no post anterior, por conta da quantidade de areia que escorria ladeira abaixo em tempos de chuva), a rua foi de muito requinte e graça durante bom tempo.

Isso porque seus sobrados abrigavam as gentes economicamente mais importantes da cidade de Parahyba, o que inclui senhores de engenho e altos comerciantes. Prova disso é que serviu de passarela para o desfile da comitiva real destacada pelas presenças do imperador Pedro II e da imperatriz Tereza Cristina, na véspera do Natal de 1859, quando de histórica e badalada visita imperial à Paraíba.

Após o desembarque no Porto do Varadouro, com pompas e circunstâncias nunca vistas por estas bandas do Brasil, a comitiva tomou o caminho da rua da Areia no rumo da Cidade Alta, com sacadas e janelões dos sobrados ocupados por senhores, senhoras, moços e senhorinhas da elite paraibana, e as calçadas pelo povo.

Essencialmente destinada a moradias em seus fulgores, a rua, que chegou a ser denominada de Barão da Passagem, sem pegar, está entre as primeiríssimas vias escolhidas para calçamento, passeio, iluminação e serviços de água e esgoto, na cidade, além receber os trilhos da Ferro Carril, introduzindo o bonde na capital paraibana, inicialmente puxado por burros.

O traçado era beneficiado por ser um aclive menos íngreme entre a cidade baixa e a cidade alta, em contraposição à ladeira de São Francisco, a primeira via de acesso entre os dois planos da Filipéia de Nossa Senhora das Neves. Outro fato marcante na existência da rua da Areia foi servir de espaço para o nascente carnaval de rua da cidade, ainda nos novecentos, que deixava o interior das casas e ganhava dimensão pública.

Ao menos até início da década de 1951, a folia local tinha destaque. É o que reporta A União de 3 de fevereiro daquele ano, sábado de carnaval, anunciando o desfile de clubes, troças e blocos, com concentração na Praça Aristides Lobo, descendo então pela rua da Areia, com o palanque oficial armado ao lado da fábrica de guaraná Dore, por trás da Fábrica de Cigarros Popular, portanto, já bem próximo da atual Praça Antenor Navarro.

O revés começou com as construções principalmente da avenida Tambiá (hoje Monsenhor Walfredo), da rua das Trincheiras e da João Machado, para onde a elite foi se transferindo, deixando as antigas moradias da cidade baixa. Mas resta uma esperança para a Rua da Areia, uma vez que ela e seus prédios estão sob vigilância oficial tanto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) quanto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep).

Quem sabe não lhe sobre um lugar de destaque no projeto de revitalização do centro histórico.

Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba