A preservação de prédios históricos é uma obrigação inarredável do poder público, especialmente em cidades como João Pessoa onde ruas, fachadas e pedras muitas vezes carregam séculos de memórias que narram a trajetória do povo pessoense e sua identidade.
Esses edifícios não são meras construções, mas testemunhas silenciosas de transformações sociais, políticas e culturais que moldaram a cidade. Quando um prédio histórico é abandonado ou demolido, perde-se muito mais que tijolos e argamassa: apaga-se um capítulo da história coletiva, rompendo o diálogo entre passado, presente e futuro.
Em uma cidade fundada em 1585, como João Pessoa, essa responsabilidade ganha contornos ainda mais urgentes, pois sua paisagem urbana é uma colagem de tempos, onde colonial português, barroco, ART nouveau, déco e o eclético coexistem com a modernidade, formando um patrimônio único no Brasil.
A Constituição Federal de 1988 já reconhece essa obrigação ao determinar, em seu Artigo 216, que o Estado deve proteger o patrimônio cultural brasileiro, onde se incluem obras e edificações, garantindo sua integridade como direito das gerações atuais e futuras.
Espaços vazios podem ser revitalizados como galerias de arte, centros comunitários ou espaços para feiras culturais, mantendo vivas as tradições, sem descaracterizar a arquitetura original. João Pessoa, porém, enfrenta desafios específicos, pois áreas como a Rua das Trincheiras, a João Machado, a antiga Avenida Tambiá, a General Osório, a Duque de Caxias, a Praça Álvaro Machado e a Rua da Areia, destacadamente, têm prédios históricos em marcha acelerada para o arruinamento.
Felizmente, há exemplos inspiradores. O antigo Hotel Globo, no Varadouro, foi um dia restaurado e hoje abriga exposições e eventos, mantendo viva sua alma histórica. Essas iniciativas, aliadas ao trabalho do Iphaep (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado), demonstram que a preservação é viável quando há vontade política e engajamento social.
Em João Pessoa, cidade que respira história, cada fachada preservada é um antídoto contra o apagamento da memória.
Foto do antigo Hotel Globo.
Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.