Recordo-me de uma das últimas vezes que vi Jurandy Moura, sempre lembrado crítico de cinema e cineasta paraibano, no estabelecimento Flor da Paraíba, com terraço em plano mais elevado que a calçada, situado na intersecção sul da rua Padre Meira com o Parque Solon de Lucena. Bem em frente, na outra esquina ficava o Pietro’s.
Depois que a Bambu fechou, em 1973, esses bares foram adotados por intelectuais e artistas errantes e transeuntes em geral. O Pietro’s, que servia pizzas e uma adorável codorna, acolhia todo mundo.
Ali fazia praça um atencioso garçom que ficou célebre nas noites pessoenses, chamado Biu. Numa e noutra casa, o papo transcorria geralmente em altos decibéis, atrapalhado pelo barulho de carros e ônibus que, mesmo à época, já enlouqueciam o trânsito do Centro da Capital. Em duas ocasiões memoráveis e emocionalmente contrastantes me encontrava no Pietro’s. Por sinal, ambos à noite e em dia de chuva torrencial em João Pessoa.
O primeiro foi o da vitória do Botafogo da Paraíba sobre o Flamengo de Zico, Júnior e companhia, todos eles em campo, no Maracanã, em 06 de março de 1980. Alegria imensa tomou conta dos frequentadores do bar.
O segundo, um instante de profunda tristeza, também em noite de tempestade na capital paraibana. As águas da chuva carregaram duas moças que residiam em um pensionato ali perto, na Treze de Maio, depois que o piso da residência cedeu. As duas caíram nas galerias pluviais que desembocavam na Lagoa do Parque Solon de Lucena. Uma delas acabou morrendo. A tragédia marcou João Pessoa.
Na seara política, um momento de particular lembrança foi quando levamos o inesquecível Gonzaguinha para tomar uma cervejinha por lá. Ele havia acabado de aderir ao PT, o que aconteceu exatamente aqui em João Pessoa. Ficam aí os registros do Pietro’s e do Flor da Paraíba, duas empreitadas indeléveis da história boêmia de João Pessoa.
(A foto é do Pietro’s e foi publicada por Zé Marcos Mello no grupo Paraiba Fotos e Fatos Antigos, no Facebook)
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba