A história dos potiguaras, e primos, Pedro Poty, natural da Capitania da Paraíba, e Diogo Camarão, cujo local de nascimento é disputado entre Pernambuco e Rio Grande do Norte, é tensa e comovente.
O conflito aberto entre os dois, com relação à guerra entre portugueses e holandeses, é uma mostra do quanto os povos originários da região estavam divididos com relação ao litígio, na primeira metade do Século XVII. Letrados, eles trocaram cartas dramáticas, em tupy antigo, arquivadas em Haia (somente traduzidas, no todo, recentemente), em que expõem, um ao outro, as razões de seus posicionamentos.
Primeiro, a carta de Diogo Camarão ao primo, exortando-o a aderir à causa lusitana: “Sois um bom parente. Sai desse lugar, que é como o fogo do inferno. Não sabeis que sois cristão? Por que vos quereis perverter? Por que vos quereis perverter? Se os Portugueses têm êxito na guerra é porque, sendo cristãos, o Senhor Deus não permite que fujam ou se percam, por isso desejamos muito que vos passeis para nós, e isso garantido pela palavra do grande capitão
Antônio Philippe Camarão e de todos os capitães dos Portugueses”. Em resposta, Poty, aliado aos batavos, escreveu: “Não acrediteis que sejamos cegos e que não possamos reconhecer as vantagens que gozamos com os holandeses entre os quais fui educado.
Jamais se ouviu dizer que tenham escravizado algum índio ou que tenham assassinado ou maltratado algum dos nossos. Eles nos chamam e vivem conosco, como irmãos. Em todo o país encontram-se os nossos, escravizados pelos perversos portugueses, e muitos ainda o estariam, se eu não os tivesse libertado.
Os ultrajes que nos têm feito, mais do que aos negros, e a carnificina dos da nossa raça, executada por eles, na Baía da Traição, ainda estão bem frescos em nossa memória. Abandonai, portanto, primo Camarão, esses perversos”.
No Rio Grande do Norte, esses fatos estavam para ser estudados nas escolas públicas. Não sei se a acertada ideia vingou.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba