Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Os velhos cinemas de rua em João Pessoa - Por Sérgio Botelho

A minha mais forte e saudosa lembrança das salas de projeção cinematográficas da João Pessoa das décadas de 50 e 60 é a representada pelas matinais de domingo no Cine Rex, que funcionava na esquina da Duque de Caxias com a Peregrino de Carvalho.

Foto; Internet

A minha mais forte e saudosa lembrança das salas de projeção cinematográficas da João Pessoa das décadas de 50 e 60 é a representada pelas matinais de domingo no Cine Rex, que funcionava na esquina da Duque de Caxias com a Peregrino de Carvalho.

Antes, tínhamos que ir à missa, logo bem cedo, celebrada pelo padre Juarez na vizinha Igreja da Misericórdia. Depois, vinha a hora da diversão, no cine Rex, onde uma das atrações que mais prendiam as crianças eram os cine-seriados. Na calçada da Peregrino de Carvalho, em frente à entrada do Rex, funcionava a venda ou troca livre de figurinhas que preenchiam os contumazes álbuns vendidos nos “fiteiros” (bancas de revista).

Na sequência, as sessões eram barulhentamente acompanhadas pela meninada, especialmente quando dos velhos filmes de faroeste ou de aventuras. Depois de prender a respiração nas cenas em que os bandidos pareciam se encaminhar para uma indesejada vitória, a criançada explodia em palmas e vivas e pancadas nas cadeiras acolchoadas do Rex quando o “artista”, enfim, vencia a parada. Era uma alegria maravilhosa!

Com a inauguração do requintando Cine Municipal, em 1965, o Centro de João Pessoa passou a abrigar seis salas de cinema: o próprio Municipal, além do também elegante Plaza (ambos, na Visconde de Pelotas), o já citado Rex, o Cine Brasil (na descida da Guedes Pereira), o Cine Filipeia (na esquina da rua General Osório com a da República) e o Astoria (também na Rua da República). Confesso que não lembro perfeitamente se quando da inauguração do Municipal o Astória ainda funcionava. Mas, na década de 50, sim.

Na cidade baixa havia, ainda, o Cine São Pedro, na São Miguel, nos limites do Cordão Encarnado, bem próximo ao Cemitério da Boa Sentença. Praticamente cada bairro de João Pessoa tinha a sua sala de cinema, ente as décadas de 50 e 60: em Jaguaribe, o cine Jaguaribe, o São José e o Santo Antônio (este, mais confortável); na Torre, o cine Torre e o Metrópole; em Cruz das Armas, o Bela Vista, o Glória e o Guarani (este, em Oitizeiro); e o São Luiz (em Mandacaru).

Na década de 1970, após a inauguração do Hotel Tambaú (1971) surgiu o Cine Tambaú, que passou a fazer parte do rol das mais chiques salas de cinema da capital paraibana. Mas, nesse tempo, grande parte dos cinemas de bairro havia fechado as portas ou estava em franca decadência.

O quadro revela a importância que a arte cinematográfica sempre teve em João Pessoa, o que, certamente, inspirou cineastas paraibanos, até as décadas de 1950-1960, desde Walfredo Rodrigues, passando por Linduarte Noronha, Wladimir Carvalho, Ipojuca Pontes, Carlos Aranha, João Ramiro, com forte motivação para a existência de vários cineclubes entre as décadas de 1960 e 1970, na capital paraibana.

Foi todo esse amor pela chamada sétima arte o que forjou críticos de cinema das estirpes de Willis Leal, Barreto Neto, Jomard Muniz de Brito, João Batista de Brito, Carlos Aranha, Jurandy Moura, Sílvio Osias, entre outros, que garantiram a memória escrita sobre filmes, atores, cineastas e salas de cinema em João Pessoa e, mesmo, no Brasil. Um dia, as salas de cinema espalhadas pelos bairros se acabaram.

Hoje, elas até chegam a ser mais numerosas, na capital paraibana e em outras capitais e grandes cidades brasileiras, que passaram por fenômeno semelhante. Falo das salas de cinema espalhadas pelos shoppings, a acolherem filmes aos borbotões produzidos por uma indústria cinematográfica cada vez mais operante e mais rica, atuante em vários países do mundo.

Afinal de contas, o cinema continua enfeitiçando, assim desde que foi criado, pelos irmãos Lumière, que exibiram as primeiras imagens em movimento obtidas pelos seus cinematógrafos, no final do século XIX.

(Na imagem, o antigo Cine Rex)

Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polemica Paraíba