OPINIÃO

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Os indefectíveis bondes - Por Sérgio Botelho 

Em João Pessoa e outras capitais e grandes cidades brasileiras, foi o bonde, durante décadas, um meio de locomoção de enorme singeleza e capacidade integradora. O veículo rodava lento o suficiente a permitir que grande parte das pessoas pudessem embarcar no veículo mesmo em movimento, portanto fora dos pontos. O bonde poupava caminhadas curtas e médias, mas também possibilitava a expansão da cidade a outros limites mais distantes da geografia municipal. Os bondes do meu tempo, todos elétricos com parada obrigatória no Ponto de Cem Reis (que herdou o apelido justamente por conta do preço das passagens do referido meio de transporte), chegavam ao Roger, Mandacaru, Imbiribeira (Tambauzinho), Miramar, Tambaú ou apenas para Cruz do Peixe, na Juarez Távora, onde ficava a garagem da empresa, no local onde hoje se situa a Usina Cultural Energisa. Além disso, havia linhas de bonde para o Comércio e o Varadouro, Cruz das Armas-Oitizeiro e Jaguaribe, marcando a época de uma João Pessoa que atravessava o tempo de forma mais tranquila e humana. Os bondes elétricos foram implantados na capital paraibana exatamente no dia 19 de fevereiro de 1914. “A Parahyba amanhecerá em festas para celebrar condignamente o maior acontecimento de sua vida publica nestes últimos tempo: a inauguração dos bondes elétricos…”, anunciava em primeira página o jornal A União daquela data. Era tempo da presidência estadual de Castro Pinto. Contudo, o próprio jornal do governo fazia questão de salientar que os bondes elétricos haviam sido “contractados pelo sr. dr. João Lopes Machado, antecessor do sr. dr. Castro Pinto no governo do Estado”, ponderando, contudo, que “vae caber ao sr. dr. Castro Pinto, por um designio justíssimo do destino, a honra desvanecedora de ilustrar o seu governo (…) entregando ao povo da terra mais este consideravel e imponente melhoramento”. Convém anotar que antes disso, quando corria o ano de 1896, a Ferro Carril Parahybana instalou a primeira linha de bondes com tração animal, entre a estação ferroviária e a Praça Vidal de Negreiros (Ponto de Cem Reis), depois se espalhando a outros pontos da Cidade de Parahyba. Os bondes começaram seu processo de extinção em João Pessoa entre 1955 e 1959, para encerrar de vez as atividades no início da década de 1960. Desde então, as ruas de paralelepípedos passaram a ser asfaltadas, cobrindo os trilhos dos bondes. Teve início, então, na capital paraibana, o reino absoluto dos ônibus, até os dias de hoje. E quem souber mais, que conte!
(Na foto o bonde, no velho Ponto de Cem Reis, vendo-se ao fundo, em primeiro plano, a antiga versão física do Cine Plaza. Também aos fundos, porém mais à esquerda da foto, vê-se parte da frente do extinto Hospital de Pronto Socorro, na esquina da rua Visconde de Pelotas com a Arthur Aquiles)

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba