
Até agora, vimos revelando a resistência popular à adoção de nomes oficiais de logradouros. Entretanto, ruas tradicionais, as primeiras de João Pessoa, como a Nova, a Direita e a da Cadeia, foram substituídas por nomes como General Osório, Duque de Caxias e Visconde de Pelotas, e as denominações pegaram (embora ainda exista quem prefira Nova, à General Osório, e Direita, à Duque de Caxias, a resistência não tem a dimensão do que ocorre com Lagoa e Bica).
São nomes de pessoas que não têm nada a ver com a memória coletiva, afetiva ou de qualquer tipo, da cidade. Modernamente, contudo, a população adotou as denominações, embora a esmagadora maioria não tenha a menor ideia de quem foram os agraciados, fazendo com que os antigos nomes perdessem referência no cotidiano pessoense.
No caso dessas ruas tão tradicionais, suas denominações originais estavam diretamente ligadas à função que desempenhavam na cidade – eram nomes descritivos, práticos e facilmente assimiláveis pelos habitantes.
Quando foram renomeadas com reverências a figuras históricas nacionais — no caso em foco, a personagens da Guerra do Paraguai —, naturais de outras regiões do país, a cidade passou por um processo de desconexão entre o nome e o significado original da via.
Talvez por conta de detalhes gerenciais a golpear a força da memória coletiva da cidade, revelando que as denominações de logradouros não se constroem apenas pela tradição, mas também pelo contexto em que as mudanças ocorrem. Quando há efetiva resistência popular, os antigos nomes se impõem naturalmente.
Por outro lado, quando a substituição acontece num momento em que a população, por algum motivo, vacila coletivamente no sentido de manter o nome anterior, a nova denominação se solidifica.
Ainda que a origem dessas homenagens, volto a lembrar, permaneça um mistério para a maioria dos habitantes de João Pessoa.
(Na foto, trecho inicial da antiga Rua Nova, atual General Osório, onde se veem, além dos paralelepípedos, suas principais referências históricas: a Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves e, à esquerda, o Mosteiro de São Bento).
Fonte: Portal T5
Créditos: Polêmica Paraíba

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.