
Em dezembro de 1857, ao assumir a presidência da Província da Parahyba do Norte, o descendente de francês, Beaurepaire Rohan, que hoje dá nome a importante rua da cidade baixa de João Pessoa, cunhou uma frase específica para justificar uma de suas ações mais significativas, que infelizmente não teve continuidade após o seu breve governo.
Segundo ele, era preciso impedir que as moças continuassem a ter “o seu horizonte limitado ao oratório, sala de jantar e cozinha”. Convém saber que até meados do Século XIX, com mais dramática evidência, a sociedade patriarcal e escravocrata impunha às mulheres, especialmente as das elites, um modelo de comportamento baseado na reclusão doméstica, na devoção religiosa e na preparação para o casamento e a maternidade.
(Quanto ao horizonte das pobres, a situação era muito, muito pior, já que a exclusão era dupla ou tripla, por classe, por cor e por gênero, limitado ao trabalho precoce, à servidão, ao analfabetismo e à invisibilidade social). A educação formal para meninas era quase inexistente ou voltada exclusivamente para habilidades domésticas e morais.
A combinação “oratório, sala de jantar e cozinha” representava, simbolicamente, esse confinamento de expectativas: piedade, serviço à família e submissão. A determinação de Beaurepaire Rohan resultou, então, na criação do Colégio Nossa Senhora das Neves, para moças, no intuito de que as mulheres também pudessem ter acesso ao conhecimento e a uma vida mais intelectual.
O pensamento de Rohan ecoava ideias do Iluminismo, que implicava em valorizar a instrução, antecipando debates mais intensos que viriam a ganhar força no final do século XIX e início do XX sobre a emancipação feminina, no Brasil.
Em 1858, numa cidade perdida nos confins do ainda mais arcaico Nordeste (na época, sob a denominação geral de Norte, que incluía a região amazônica) poucas figuras públicas ousariam declarar com tanta clareza a necessidade de ampliar os horizontes das mulheres.
Como já disse, a ideia do Colégio Nossa Senhora das Neves foi descontinuada já no governo que o sucedeu, somente sendo retomada após a posse do primeiro bispo da Paraíba, Dom Adauto de Miranda Henriques, em 1894, embora com objetivos exclusivamente católicos e voltados para o fortalecimento do poder temporal e eclesiástico do Vaticano.
Portanto, a célebre frase de Rohan revela não só um ideal de liberdade e instrução, mas também os limites dessa liberdade, circunscrita, infelizmente, aos muros das instituições que serviam aos privilegiados.
Para as demais, o “horizonte” era mais estreito do que qualquer oratório — com histórias jamais escritas. Mas foi importante a ação de Beaurepaire Rohan.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.
Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.