Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O velocíssimo Macaxeira! - Por Sérgio Botêlho

Quando os porteiros dos cinemas Municipal, Rex e Plaza davam um refresco, Macaxeira entrava, disparado, guiando um carro imaginário e fazendo com a boca o barulho mais próximo possível de um automóvel em movimento: vroooooooommmm… As duas mãos viviam segurando uma direção que somente ele via. Os porteiros corriam feitos loucos atrás de Macaxeira, pois era tumulto certo na sessão. Ele pulava nas cadeiras acolchoadas do cinema, mais do que um menino, podendo quebrar algumas delas.

Foto: Divulgação

Quando os porteiros dos cinemas Municipal, Rex e Plaza davam um refresco, Macaxeira entrava, disparado, guiando um carro imaginário e fazendo com a boca o barulho mais próximo possível de um automóvel em movimento: vroooooooommmm… As duas mãos viviam segurando uma direção que somente ele via. Os porteiros corriam feitos loucos atrás de Macaxeira, pois era tumulto certo na sessão. Ele pulava nas cadeiras acolchoadas do cinema, mais do que um menino, podendo quebrar algumas delas.

Macaxeira, que se chamava Marcos, morava na rua Anísio Salatiel (Varadouro), mas deve ter corrido a cidade inteira. Era louco por aqueles radinhos de pilha. Porém, quando as pilhas se acabavam ele aproveitava e jogava tudo fora, inclusive o rádio. Certas vezes ele chegava perto de alguém, olhava o relógio, dava a hora, e disparava. Mantinha a sua característica básica: andar disparado.

Algumas vezes vi a sua mãe – ou parente próxima – protegendo-lhe dos perigos nas ruas de João Pessoa. Não me recordo, porém, de nenhuma perversidade que lhe tenha sido feita. Talvez nem houvesse tempo para o malfeitor executar o ato em virtude de sua rapidez permanente. Quando corria, seus olhos se apertavam como se o vento efetivamente houvesse se tornado forte demais.

Macaxeira só corria tanto porque o tempo em que viveu era bem mais lento que o de hoje. Não havia tantos carros em João Pessoa e dava para ele atravessar as ruas quase sem olhar, desviando dos raros automóveis em movimento. Fossem os tempos de hoje, e não daria para Macaxeira viver tão solto como vivia. Ele foi, literalmente, um homem do seu tempo, feito para o seu tempo, e somente livre e possível no tempo em que viveu.

Lembrar de Macaxeira, portanto, é lembrar de uma outra João Pessoa bem diferente da atual. Sem qualquer sombra de saudosismo, era uma cidade mais tranquila, menos apressada e, desse jeito, do tamanho perfeito para o tipo de vida de Macaxeira. Não apenas ele, mas, ainda, para Mocidade, Caixa d’Água, Pão de Bico, Doutor Cagão e outras personalidades espetaculares do nosso dia a dia de décadas atrás.

Um cotidiano que deve ser desnudado, sempre, retirado permanentemente da sombra onde não merece ser escondido. Lembrar da João Pessoa de outras épocas é, assim, uma necessidade para que possamos entender a cidade de hoje. Somos o que somos por conta do nosso passado e de nossas gentes, das mais equilibradas às mais loucas, das mais importantes às mais obscuras.

Macaxeira, do qual, infelizmente, não consegui foto, esteve entre essas gentes inesquecíveis e merecedoras de serem lembradas.

Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba