opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. O tribuno Mocidade - Por Sérgio Botelho 

Não havia quem não se emocionasse com os discursos proferidos por Mocidade, uma figura singular do memorial pessoense que fez sucesso nas décadas de 1940, 1950, 1960 e 1970. Se dizia nascido como João da Costa e Silva (descobriu-se depois que na verdade se chamava João da Silva Costa), tinha vocação para a tribuna, realmente, mas era tido como um dos doidos da cidade.

Não havia quem não se emocionasse com os discursos proferidos por Mocidade, uma figura singular do memorial pessoense que fez sucesso nas décadas de 1940, 1950, 1960 e 1970. Se dizia nascido como João da Costa e Silva (descobriu-se depois que na verdade se chamava João da Silva Costa), tinha vocação para a tribuna, realmente, mas era tido como um dos doidos da cidade.

O problema dessas classificações está em você encontrar com clareza o limite entre loucura e sanidade. “Mocidade da minha terra!…”, era como dava início aos seus pronunciamentos. Contam que ele teria feito o curso de Direito várias vezes, apesar de nunca oficialmente matriculado. É que lhe era permitida a entrada livre na Faculdade, na Praça João Pessoa, e, mais ainda, às salas de aula. E não cansava de usufruir do benefício. A ele são creditadas hilárias narrativas, que transitam entre a verdade e a lenda. Dizem, por exemplo, que no enterro de Ruy Carneiro, ex-interventor (1940-1945) e ex-senador (1951-1977) do estado, ele proferiu um discurso que emocionou os presentes, orçados aos milhares no Cemitério Senhor da Boa Sentença.

Na saída, era elogiado de corpo presente num dos grupos que se movimentavam à procura da rua, quando comentou: “Vocês não viram nada, discurso eu vou fazer no enterro de José Américo!!!”. Surpreendido com a promessa foi o próprio condenado à futura homenagem, que vinha logo atrás, em outro grupo, e ouviu o que Mocidade disse. Pano rápido! Era protegido do governador João Agripino, que administrou a Paraíba entre 1966 e 1971, de quem até ganhou moradia nos fundos da sua (de JA) residência particular, na praia de Cabo Branco. Dessa relação há um episódio dos mais repetidos sobre a história de Mocidade. 1968 foi um ano bastante movimentado em João Pessoa, quando foram registradas históricas mobilizações estudantis contra o regime vigente no país.

De Mocidade, lembro como se fora hoje, empunhando um cartaz, no Ponto de Cem Reis, com dizeres exatamente assim: “É preciso CIVILizar o país para não MILITARmos no erro”. Ele tinha espírito de oposição, apesar de protegido do governador. Num dos dias de protesto, fez emocionado discurso em favor dos estudantes, baixando a pua na ditadura e, por conseguinte, no governo estadual. Lógico que seu protetor mais poderoso logo ficou sabendo. À noite, Agripino aguardou a chegada de Mocidade em casa.

“Me diga uma coisa, homem, quem lhe dá proteção?”. “Você, João!”. (A intimidade era grande!). “Quem lhe dá casa e comida?”. “Você, João!”. “E por que você fez um discurso virulento hoje contra mim?”. “Governo é pra sofrer, mesmo, João!”. Kkkkk E foi dormir! Mocidade faleceu em 1981. Registre-se por fim o livro O Anjo Torto, sobre ele, do jornalista Gilvan de Brito, com registros preciosos sobre a própria vida pessoense de tempos atrás.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba