OPINIÃO

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O tradicional e sempre lembrado corso - Por Sérgio Botelho 

foto: reprodução

Houve um tempo no carnaval de João Pessoa, acompanhando tradição do próprio carnaval brasileiro, que havia o corso. Percorrendo itinerário previamente traçado pelas autoridades municipais, carros enfeitados carregando gente alegre com fantasias criativas e coloridas celebravam momo com música, dança e alegria. Terminavam montando um cortejo repetitivo em termos geográficos, por três ou quatro horas. Origens da prática podem ser encontradas nas festividades de carnaval da Europa, evidentemente adaptada e transformada de acordo com as características culturais do Brasil. Em João Pessoa, alguns carros levavam bandas informais, embora muitas delas bem ensaiadas, tocando uma variedade de músicas populares brasileiras, principalmente sambas e marchinhas de Carnaval.

Eram as charangas, que usavam padrão único de roupas ou fantasias. Tudo era carnaval e tudo valia a pena se a alma era da folia! As charangas, ao menos as mais organizadas, participavam de competição particular. Em função do corso, quando chegava perto do carnaval, as turmas se organizavam a fim de alugarem carros velhos. Também existiam lojas na capital que se apresentavam com suas próprias batucadas. Inicialmente, o corso era realizado apenas na Duque de Caxias, em mão dupla, sendo depois ampliado para o trajeto Ponto de Cem Réis, Visconde Pelotas, Praça Dom Adauto, fazia a curva no Pio XII, entrava na Duque de Caxias, passava outra vez no Ponto de Cem Réis, retomava a Duque de Caxias, Praça João Pessoa, Pavilhão do Chá, dobrava na Academia de Comércio, pegando a Almeida Barreto, dobrava a antiga Rádio Tabajara, caindo na Rodrigues de Aquino, passava outra vez na Praça João Pessoa, chegava à Praça 1817 para voltar ao ponto inicial, no Ponto de Cem Réis. Em algum tempo foi escolhido como itinerário o circuito interno do Parque Solon de Lucena.

O percurso era retomado tantas vezes quanto constasse da programação oficial. Do corso não participavam apenas troças (outro apelido dado às charangas). Ao longo do trajeto, havia o povo nas ruas a jogar água, lança perfume, confete e serpentina nos carros que formavam aquela barulhenta e animadíssima procissão. Oficialmente o corso era realizado aos domingos, segundas e terças-feiras de carnaval, em horário diferente dos previstos para os desfiles de rua e os bailes de clube. Uma combinação de fatores contribuiu para o fim do corso em João Pessoa. Com a modernização e a evolução dos gostos culturais, as formas de celebração do carnaval também mudaram. O carnaval de rua mudou de patamar com a criação de blocos de arrasto e shows espetaculares. Olinda e Recife, aqui bem perto, ganharam de vez a juventude. Além do mais, a modalidade foliã envolvia cada vez mais veículos desfilando pelas ruas, o que levantava preocupações com a segurança tanto dos participantes quanto dos espectadores. Enfim, a crescente conscientização sobre questões ambientais, como a poluição causada por veículos e a quantidade de lixo gerada durante esses eventos, pode ainda ter influenciado a decisão de interromper a prática. O tempo e suas circunstâncias, portanto, acabaram com o corso. Hoje seria absolutamente impossível reconstruí-lo, restando apenas lembrá-lo como um item indispensável que foi do nosso memorável passado carnavalesco.

(Imagem do corso na Duque de Caxias)

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba