O sentimento que se tem ao percorrer a avenida João Machado é a um só tempo de deslumbramento e de tristeza. O deslumbramento fica por conta da beleza da rua e da presença de marcantes casarões que em grande parte foram construídos na época de sua abertura, na década de 1920.
A tristeza, pela situação em que muitos desses casarões se encontram, alguns deles em processo de arruinamento. Se esperança ainda existe, ela fica por conta da recente união entre governo do estado e prefeitura de João Pessoa visando a revitalização do Centro Histórico, com propostas efetivamente capazes de conduzir a empreitada ao sucesso.
A João Machado, que começou a ser aberta entre o final da década de 1900 e 1910, durante o governo do presidente João Lopes Machado, herdando-lhe o nome (lembrando sempre que na República, até a Era Vargas, inaugurada em 1930, os dirigentes estaduais eram chamados presidentes), representou a expansão da capital paraibana na direção sul. Mas também compôs, entre a própria década de 1910 e a de 1920, o conjunto das obras urbanas que propiciaram o crescimento da cidade no rumo do litoral.
Nessa conformidade, se ligada à rua das Trincheiras, a oeste, e às avenidas Tambiá, ao Norte, e Maximiano Figueiredo, a leste, fechando um quadrilátero. A cereja do bolo se expressava pela ainda hoje belíssima Praça da Independência. Foram tais realizações e mais o saneamento da Lagoa dos Irerês, resultando no Parque Solon de Lucena, as principais mudanças urbanas que antecederam a abertura da avenida Epitácio Pessoa na direção de Tambaú.
Voltando à João Machado, a nova via surgiu aos moldes de um boulevard, refletindo a pressão pelo moderno que emanava das elites agrárias do estado, com especial destaque para os donos de engenhos e plantadores de algodão, além de profissionais liberais e altos comerciantes das duas mercadorias que faziam a riqueza do estado.
Essa gente é que passou a construir moradias na João Machado, destacadamente na década de 1920, como vinham fazendo nas Trincheiras e em Tambiá, obedecendo a projetos arquitetônicos que ostentavam recuos laterais e frontais de generosos terrenos, diferentemente das antigas casas conjugadas que simbolizaram a cidade até então.
Essas elites buscavam ainda a instalação dos serviços de água, esgoto e iluminação urbana, servindo o subsolo da João Machado também às obras nesse sentido. O prédio da foto, destaque de hoje, na esquina da João Machado com a Monsenhor Sabino Coelho que, segundo informações do Memória João Pessoa, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba, serviu por anos de residência ao historiador paraibano Horácio de Almeida, se encontra em péssimo estado.
Conforme as descrições técnicas da mesma fonte, “embora já tenha sofrido algumas reformas que alteraram sua fachada, o prédio ainda apresenta características próprias da arquitetura residencial de seu tempo, quando o ecletismo abandonava seus excessos decorativos e a composição volumétrica tinha forte conotação na concepção do projeto”.
Este, o registro de hoje.
Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraiba