O jornal A União, de 25 de janeiro de 1950, pouco menos de um mês antes do Carnaval daquele ano (18, 19, 20 e 21 de fevereiro, contando do sábado), veiculava nota do Clube Astrea, contendo normas disciplinadoras para os bailes dedicados à folia.
Entre os itens normativos, um deles dizia o seguinte: “Proibir, terminantemente, o uso de lança-perfumes como entorpecente. Para o cumprimento estrito desta recomendação a Diretoria nomeará uma fiscalização severíssima, punindo os infratores de acordo com os Estatutos do Clube”.
A leitura me fez lembrar desse dispositivo de luxo (lança-perfume) indispensável nos bailes de clubes dos meus tempos de criança, não apenas em João Pessoa, mas em todo o Brasil. Inicialmente, seu uso era associado à diversão e à leveza dos bailes carnavalescos, com as pessoas borrifando o líquido aromático no ar ou na pele.
Um tópico de luxo e requinte. Segundo me informa detalhadamente o site Mundo Educação, o lança-perfume é um solvente químico composto por éter, clorofórmio, cloreto de etila e uma essência perfumada. O composto é produzido sob pressão dentro de tubos, assim, quando ele entra em contato com o ar, evapora rapidamente.
Logo, jovens e foliões descobriram o efeito inebriante da inalação das substâncias presentes no produto, o que causava euforia temporária, mas também sérios riscos à saúde, incluindo perda de consciência e danos neurológicos.
A nota do Clube Astrea evidencia tentativa de preservar a ordem e a segurança em um ambiente festivo, refletindo as tensões entre a tradição do Carnaval como um espaço de liberdade e a necessidade de regulamentação para evitar excessos e danos. A “fiscalização severíssima” mencionada é um indicativo de que o problema era suficientemente preocupante para mobilizar esforços específicos de controle.
Em 1961, no governo Jânio Quadros, o lança-perfume seria proibido no Brasil, consolidando a percepção de que seus riscos superavam os benefícios festivos.
A decisão afastou a imagem lúdica do lança-perfume, incorporando discurso mais preocupado com saúde pública e segurança.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba