Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O “homem da cobra” - Por Sérgio Botelho

O Ponto de Cem Reis e as praças Aristides Lobo e Pedro Américo, no centro histórico pessoense, serviram, durante décadas

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O “homem da cobra” - Por Sérgio Botelho

O Ponto de Cem Reis e as praças Aristides Lobo e Pedro Américo, no centro histórico pessoense, serviram, durante décadas, de palcos espontâneos para a atividade de camelôs.

Aos olhos curiosos de uma criança, aqueles cenários se transformavam em espetáculos de vozes, gestos e truques que provocavam enorme curiosidade. Entre pessoas, bondes, ônibus e carros que vinham e iam estavam os camelôs. Eram ilusionistas da palavra, verdadeiros artistas do improviso, capazes de prender a atenção de qualquer um.

No meio da praça, estendiam seus panos no chão, e dali começava o show. Alguns vendiam pílulas milagrosas, capazes de curar qualquer dor, de rejuvenescer o mais cansado dos corpos. Outros exibiam canetas tinteiro que escreviam de baixo para cima, desafiando a lógica e as características do produto.

O camelô era também chamado de “homem da cobra” porque muitos costumavam utilizar cobras em suas apresentações para atrair a atenção do público. Eles exibiam os répteis como parte de uma performance treinada, mas cheia de improvisos. Enquanto as pessoas se reuniam, fascinadas e um pouco assustadas, o vendedor aproveitava para divulgar e vender suas mercadorias.

No show, uma figura indispensável era o “tapia”, personagem fundamental da cena. Ele era aquele desconhecido que surgia do nada para atestar a qualidade do produto. O primeiro a comprar, o primeiro a dizer que funcionava, incentivando os outros a fazer o mesmo. Um ator anônimo, sempre presente, essencial para que a exibição tivesse seu desfecho perfeito.

Para mim, aquilo era fascinante. Ficava parado, hipnotizado pela habilidade deles em transformar objetos banais em tesouros indispensáveis. Essas lembranças dos camelôs de algumas das praças centrais pessoenses fazem parte dessas minhas viagens no tempo, o que para muitos parece se tratar de uma outra cidade, e não a nossa João Pessoa de hoje.

Mais devagar, era uma época em que a criatividade e a lábia dos vendedores transformavam um simples ponto comercial improvisado em verdadeiro teatro popular, onde muita gente arrumava tempo para assistir, por vezes, horas a fio.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.