Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O Cinema de Arte do Municipal - Por Sérgio Botelho

Havíamos acabado de assistir Teorema, do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, um dos diretores ícones do cinema das décadas de 1960-1970 e da esquerda internacional. O filme conta a história de uma família de tipo burguesa ostentando vida aparentemente tranquila, sem atropelos, até receber em casa, como hóspede, um jovem (interpretado por Terence Stamp) que acaba desestruturando completamente o ambiente.

Foto: Internet

Havíamos acabado de assistir Teorema, do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, um dos diretores ícones do cinema das décadas de 1960-1970 e da esquerda internacional. O filme conta a história de uma família de tipo burguesa ostentando vida aparentemente tranquila, sem atropelos, até receber em casa, como hóspede, um jovem (interpretado por Terence Stamp) que acaba desestruturando completamente o ambiente.

Depois, como quase sempre ocorria, na sequência aos filmes de arte havia reunião de debate na Associação Paraibana de Imprensa, ali pertinho. Parêntesis, agora, para explicar do que falo. O Cine Municipal, na Visconde de Pelotas, recebia, às quintas-feiras, um público mais seleto, porque composto de cinéfilos e intelectuais de uma maneira geral.

Era o chamado “Cinema de Arte”, dedicado à exibição de filmes mais apurados intelectualmente e normalmente não disputados pelos circuitos comerciais. Felini, Godard, Buñuel, Bergman, Pasolini, Polanski, entre outros, eram cartazes costumeiros nas quintas-feiras. O “Cinema de Arte” do Municipal foi adotado pelo empresário Luciano Wanderley após reivindicação e conversa – conforme me lembrou outro dia o jornalista Sílvio Osias, cinéfilo de carteirinha desde os tempos de menino prodígio – mantida com o pessoal da Associação dos Críticos de Cinema da Paraíba (ACCP), onde brilhavam os gênios de Jurandy Moura, Carlos Aranha, Barreto Neto e Linduarte Noronha, entre outros.

O projeto do Municipal conviveu durante muito tempo com um sucesso de público garantidor da iniciativa, sendo mesmo responsável pela introdução de muita gente no universo do cinema. Voltando ao início, após mais aquela sessão do “Cinema de Arte”, fomos todos à sede da API, isto é, na mesma Visconde de Pelotas do Cine Municipal. Na verdade, a menos de 100 metros, entre um prédio e outro.

O debate foi comandado por Jurandy Moura, que fez uma introdução à temática do filme, expôs as vertentes de interpretação e abriu a palavra à ansiosa plateia. Logo se formaram duas correntes a respeito do conteúdo de Teorema. A primeira dizia que Pasolini havia baseado sua obra no pensamento de Freud. A outra achava que o cineasta italiano usou elementos justificadores tipicamente marxistas para a construção de Teorema.

Isto é, para a primeira corrente, a desestabilização daquela família burguesa apenas revelava as fragilidades de cada uma das personagens diante das verdades estudadas pela psicanálise. Para a outra, tratava-se de uma metafórica decadência da família burguesa preconizada pelo marxismo. Não importa a conclusão, porque não houve votação. Mas era sempre assim.

Logo depois da sessão do cinema de arte do Municipal íamos normalmente para a API debater o filme, sob a batuta ou de Jurandy Moura ou de Carlos Aranha ou de Barreto Neto. Nada disso existe mais. Foi-se o tempo!

(Foto do Cine Municipal postada por Marcos Antônio no grupo Paraíba Fotos e Fatos Antigos, no Facebook)

Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba