Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O cigarro “Presidente João Pessoa” - Por Sérgio Botelho

Em meio às imparáveis homenagens ao ex-presidente João Pessoa, reinante na capital paraibana, nos primeiros anos após sua morte

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O cigarro “Presidente João Pessoa” - Por Sérgio Botelho

Em meio às imparáveis homenagens ao ex-presidente João Pessoa, reinante na capital paraibana, nos primeiros anos após sua morte, em 1930, tudo servia como recurso, nesse sentido.

A cidade possuía na época, por exemplo, significativa produção de derivados do fumo, cujas unidades produtoras existiam principalmente nas ruas do Varadouro. A mais importante delas foi a Fábrica de Cigarros Popular, com endereço na Praça Antônio Rabelo, confluência das ruas Henrique Siqueira, Cardoso Vieira, Gama e Melo e Cândido Pessoa.

Seus proprietários eram os irmãos João e Odilon Regis Amorim, industriais de largo prestígio, então, na cidade (João Regis Amorim até hoje nomeia escola cenecista no bairro do Geisel). A fábrica se postava ao largo da Rua Cândido Pessoa com fundos para a Rua da Areia e, após fechada, entre as décadas de 1950 e 1960, passou a sediar a prefeitura pessoense.

Dois Amigos, Deliciosos, 18, Brasil-Clube, Popular, Venda e Santos Dumont, conforme anúncios em A União, à época, eram algumas das marcas de cigarros ali produzidas. Naquele começo dos anos 1930, logo depois do assassinato do presidente paraibano, uma nova linha de cigarros foi anunciada pelos irmãos Amorim: os cigarros “Presidente João Pessoa”.

O reclame, tipo exortação cívica, dizia literalmente o seguinte: “Pessoenses! Prestai mais um culto à memória do inigualável paraibano, saboreando os cigarros ‘Presidente João Pessoa’”.

A estratégia de marketing utilizada para o novo produto indica que a memória de João Pessoa era amplamente explorada como símbolo de identidade local e até mesmo como argumento de consumo.

Embora não haja informações sobre o sucesso da empreitada, o simples fato de sua criação evidencia o impacto emocional e político causado pela morte do presidente paraibano na sociedade da época.

Assim, o cigarro “Presidente João Pessoa”, mesmo na condição de um produto efêmero de mercado, é mais um indicativo do contexto social e político em que se consolidava a memória de uma figura que ainda divide a história da Paraíba.

Foto atual do antigo prédio da Fábrica de Cigarros Popular, no Varadouro.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.