Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O Bar Tabajara, 24 horas no ar - Por Sérgio Botelho

Não há tormenta maior para a boêmia do que o horário determinado como limite para o funcionamento de um bar. Todos têm que encerrar a conversa, o namoro, a bebida, e pegar descendo. A alegria tem fim, o desconsolo é grande. Na década de 1960 e 1970, principalmente, enquanto a quase totalidade de bares e restaurantes de João Pessoa fechava à meia-noite, ou pouco depois, o Bar Tabajara, que funcionava na Praça Antenor Navarro, não fechava nunca.

Foto: Internet

Não há tormenta maior para a boêmia do que o horário determinado como limite para o funcionamento de um bar. Todos têm que encerrar a conversa, o namoro, a bebida, e pegar descendo. A alegria tem fim, o desconsolo é grande. Na década de 1960 e 1970, principalmente, enquanto a quase totalidade de bares e restaurantes de João Pessoa fechava à meia-noite, ou pouco depois, o Bar Tabajara, que funcionava na Praça Antenor Navarro, não fechava nunca.

Na verdade, nem portas havia. O Tabajara atentava no circuito do Varadouro, final obrigatório de inúmeros boêmios que não aceitavam terminar as atividades etílicas no horário determinado. E todos iam para o Tabajara. Em muitos, ‘fremiam delícias extremas’. O Tabajara acabava sendo mesmo o ponto final em que a esperança apontava para o encontro de alguma solução aos desencontros da noite.

Homens, em número bem mais elevado, e mulheres buscavam o Tabajara com a avidez dos amantes não realizados. O clima, a bem da verdade, por vezes produzia alegria tensa, porém cercada de esperança. Para muitos daqueles frequentadores, contudo, buscar o Tabajara era apenas a garantia de que a boêmia ia prosseguir, que a cerveja, o whisky e o tira-gosto iam continuar a fluir normalmente, até o dia amanhecer, especialmente das sextas para os sábados e dos sábados para os domingos.

Nunca soube a razão pela qual o proprietário escolheu o nome Tabajara para batizar o empreendimento. Afinal de contas, nada ali guardava qualquer semelhança com motivos indígenas. Nem consta que os índios gostassem, em seu estado mais puro, de bares e cabarés. Nem, ainda, que o Bar Tabajara usasse adereços com motivações históricas que lembrassem a conquista da cidade pelos portugueses com a providencial ajuda dos Tabajaras, vindos lá do Sul da Bahia, perseguidos por esses mesmos portugueses.

Talvez, pelo fato de ficar ali no Centro Histórico de João Pessoa, bem pertinho do local onde enfim foi assinada a rendição dos Potiguares, empurrados para uma reserva localizada no Litoral Norte, na localidade de Baia da Traição, local onde ainda hoje vivem seus descendentes. Ou por algum arroubo de bairrismo, em virtude nossas plagas serem chamadas de Terra dos Tabajaras.

Mas digressões à parte, e independente de qualquer motivação para a escolha do nome, o Bar Tabajara foi, por longo período, o mais importante refúgio dos noctívagos pessoenses, madrugada adentro. Refúgio para todos os tipos de humanos, dos broncos aos intelectuais, dos pobres aos ricos, dos trabalhadores aos patrões.

Decididamente, um dos bares mais democráticos já vistos na capital paraibana. Como não poderia deixar de ser, o Tabajara foi, também, refúgio de jornalistas depois do fechamento dos jornais, naquelas épocas de jornalismo romântico, embora feito com extrema competência e zelo.

Não raramente, descida a capa, editores e redatores dos diversos – e concorrentes – órgãos da nossa imprensa escrita, podiam acabar se encontrando no Bar Tabajara. E tinha a radiola de ficha a permitir a escolha de músicas. Houve um dia em João Pessoa um bar que nunca fechava e tinha o nome de Tabajara!

(Se os deuses da memória não estão me enganando, o Bar Tabajara funcionava no prédio que tem as portas de baixo amarelas, à direita da foto)

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba