Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Nomeando duas ruas em João Pessoa, é preciso saber quem foi o “índio” Arabutan - Por Sérgio Botelho

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Nomeando duas ruas em João Pessoa, é preciso saber quem foi o “índio” Arabutan - Por Sérgio Botelho

Na edição de 10 de março de 1942, o jornal carioca Diário da Noite, dos Diários Associados, capitaneado pelo paraibano Assis Chateaubriand, noticiava em manchete o afundamento do Arabutan, “quase no mesmo local em que foram torpedeados o ‘Buarque’ e o ‘Olinda’” (outros dois navios brasileiros afundados anteriormente), após bombardeado por submarino alemão (versão confrontada pelo terceiro oficial da embarcação brasileira, José Lopes de Medeiros, sustentando que havia visto, na torre do submarino agressor, quatro homens de cabelos pretos, baixos e morenos, sugerindo, então, que fossem italianos, o que dava no mesmo). Segundo dizia a matéria, tratava-se de navio mercante (construído em 1917 na Itália com o nome de Caprera), da Lloyd Nacional, que fazia sua primeira viagem à América do Norte levando gêneros de primeira necessidade. Pelo seu nome, a empresa de navegação homenageava o pau-brasil, na língua tupi, árvore que foi um dos primeiros recursos naturais explorado pelos europeus no território brasileiro e forte símbolo cultural do país. No momento do ataque, o Arabutan (ou pau-brasil, como já expliquei) voltava carregado com mais de 7 mil toneladas de carvão. Na época, corria cada vez mais sangrenta a Segunda Guerra Mundial, e os Estados Unidos já estavam oficialmente metidos nela, contra o Eixo (Alemanha, Japão e Itália), desde o ataque japonês à base estadunidense de Pearl Harbor, em dezembro de 1941, no Havai. O Brasil ainda mantinha posição oficial de neutralidade com relação à guerra, após um namorico sem futuro entre a ditadura getulista e o regime nazista. (No entanto, à altura do ataque ao Arabutan, o governo Getúlio já estava de relações rompidas com os três países do Eixo e auxiliando fortemente os Estados Unidos). Mas a declaração de guerra contra Alemanha, Itália e Japão, pelo Brasil, somente viria a acontecer em agosto de 1942, cerca de quatro meses após o afundamento do Arabutan, e depois de muitas passeatas pelo Brasil afora. Em meio a esse clima de comoção, os nomes das embarcações afundadas pelo Eixo, passaram a denominar ruas e praças e localidades pelo país afora. (Hoje é possível encontrar logradouros de nome Arabutan, e até condomínios Arabutan, em diversas cidades brasileiras). Em João Pessoa não foi diferente, e tão logo começou o processo de urbanização da praia de Tambaú, que compreendia a área litorânea da ponta do Cabo Branco ao Bessa, o navio brasileiro afundado em 1942 foi homenageado. Por preguiça na pesquisa ou por interesse de dar vida a um inexistente personagem indígena, os vereadores decidiram personificar o Arabutan. Assim, o navio Arabutan virou Índio Arabutan. Heróis indígenas paraibanos, das estirpes de Poti e Tabira é que não faltavam, a servirem de homenageados na urbe pessoense, já que antes contemplados Piragibe e o lendário Tambiá. Então, o erro permaneceu até hoje com relação a importante e chique avenida do Cabo Branco, que liga a principal (a Cabo Branco), primeira da orla, à rua da barreira, a Paulino Pinto, oficializada como rua Índio Arabutan. Curioso é que, na década de 1980, com o Loteamento Clerot, no Alto do Mateus, também em João Pessoa, o tal “Índio” Arabutan, que nunca existiu, passou a nomear uma rua local. Dobraram a aposta no erro.
(A foto é do navio Arabutan, amplamente divulgada na época)