Ler a Descrição Geral da Capitania da Paraíba, do holandês Elias Herckman, que governou a Paraíba entre 1636 e 1639, é bem prazeroso no sentido das descobertas que fazemos, sobre marcos memoriais nossos.
Hoje, voltamos a utilizá-lo. Em um dos trechos, por exemplo, no qual descreve a então cidade de Frederica, atual João Pessoa, ele reporta as igrejas existentes na época, marcos físicos da cidade alta.
Fala sobre o Convento de São Francisco, “o maior e mais belo”, no dos Carmelitas “ainda não de todo acabado”, no de São Bento, “levantadas as suas paredes, mas sem coberta”. Sobre o conjunto jesuítico, na atual Praça João Pessoa, Herckman faz referência apenas à existência da Capela de São Gonçalo (depois Igreja de Nossa Senhora da Conceição, derrubada no governo João Pessoa).
Cita ainda a Igreja da Misericórdia, “quase acabada, servindo aos portugueses como matriz”, e a própria matriz (a atual basílica), “uma obra que promete ser grandiosa, mas até o presente não foi acabada, e assim continua arruinando-se, cada vez mais de dia a dia”.
Em meio às descrições, Herckman destaca a existência “pouco mais ou menos no meio da cidade (de middelwegen in de stadt) e do lado do sul fica a casa do Concelho com a praça do mercado; ahi está o pelourinho, que assignalava o logar das execuções na cidade.”
No caso, Herckman está falando da atual Praça Rio Branco, que, portanto, desde os primórdios da cidade se constituiu em um largo de uso civil, e não religioso, como a ampla maioria dos largos das cidades portuguesas.
Portanto, ali no festejado local dos Sabadinhos de hoje em dia, já funcionaram uma instituição de deliberação coletiva, um mercado para a comunidade, e, infelizmente, um pelourinho, coluna erguida em praças centrais de vilas e cidades durante o período colonial, simbolizando a autoridade da justiça e do poder local, servindo como local de punição pública, onde eram realizadas execuções, castigos corporais ou exposição de condenados, geralmente, escravos e seus descendentes.
O local bem que poderia comportar um memorial negro.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba