Durante o domínio holandês, governou a Paraíba Elias Herckman, entre 1636 e 1639. Ao final desse período, legou à posteridade uma notável obra intitulada Descrição Geral da Capitania da Paraíba, utilizando sua verve de escritor com a condição de geógrafo e cartógrafo.
A título de curiosidade, lhe destaco um trecho com uma espécie de “marketing” pioneiro sobre belezas e potencialidades da região, quase um paraíso.
Disse ele: “Tendo bem observado essas cousas na província da Parahyba, achamos um ar subtil, e, segundo a natureza daquelle clima, de todo temperado e saudavel; o calor que no mesmo ar se diffunde, não é excessivo, mostrando a experiencia que, por causa desse temperamento, esta zona mal se póde denominar torrida. Assim a terra alli não é tão abrazada quanto as d’Africa sob o mesmo clima”.
“Pelo contrário, por toda a parte verdeja e se cobre de folhagens, como succede na Europa; nos logares os mais seccos se encontram relva e moitas ou capoeiras (kreupelbosch), além de que a terra é por toda a parte mui mattagosa e se cobre de toda a sorte de canniços (riet), hervas e árvores, formando uma espessura tal que impede a passagem. Tem excellentes aguas, e particularmente claras fontes de agua doce e potavel, além dos seus rios bellos, grandes e piscosos, os quaes não somente fornecem agua boa para se beber, senão tambem peixes, ostras e outros mantimentos, bem como são proprios para se subir ou descer por elles em pequenas embarcações, e assim com pouco trabalho tirar-se de uns e levar-se a outros o que se necessita para a vida e o que se considera util e proveitoso para a construcção urbana.”
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O olhar de Herckman sobre a capitania, que à época se restringia ao litoral e ao brejo e seus entornos, por mais que tenha sido movido por interesses coloniais, visando a ocupação do território, se alinha com uma tradição narrativa que atravessa os séculos, posicionando a região como um lugar especial dentro do Brasil.
Dessa forma, ainda hoje, celebrada por suas belezas naturais e clima agradável.
Imagem: Antiga povoação da Parahyba – Gravura de A.F. Lemaitre
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba
