
Paraíba - Quando o frevo desembarcou de vez em João Pessoa foi no Carnaval de 1936, tendo sido apresentado de forma exuberante. O cortejo, denominado de Marcha Democrática, teve início no Pátio da Feira, em Jaguaribe, à altura da Praça General João Neiva (que fica na hoje entrada principal do Centro Administrativo), puxado pela banda da Força Pública (atual Polícia Militar). No trajeto, arrastou milhares de foliões por entre os casarões aristocráticos das Trincheiras, encerrando oficialmente as atividades no Cruzeiro do atualmente Centro Cultural São Francisco. Depois disso, contudo, o frevo se espalhou pelo Centro da cidade, em todas as direções, sem que o Rei Momo, encarnado pelo banqueiro Joaquim Cavalcanti, manifestasse a menor vontade de interromper os instintos carnavalescos da massa. Clubes, blocos, cordões, ranchos e conjuntos musicais, segundo informava A União de 21 de fevereiro de 1936, tomaram conta das ruas e praças de João Pessoa. “Vivemos momentos alucinantes numa verdadeira frevolândia, em que todos, sem distinção de classes, côr, credos e idades se nivelaram de maneira surpreendente, irmanados na contagiante loucura collectiva”, explicou o eufórico redator do texto de A União, do outro dia, certamente redigido ainda sob os efeitos alucinógenos do frevo, no dia anterior. Afinal, o instigante, barulhento e imenso cortejo, que tinha a sede do jornal oficial como caminho, acabou parando em frente, com direito a um eloquente e motivador discurso, do Rei Momo, em prol da frevança. Hoje, quando a gente vê a enormidade social em que se transformou o Folia de Rua, por meio de suas dezenas de blocos, é preciso ir buscar na história da cidade essa vocação foliã do pessoense, como foi o caso da tal Marcha Democrática realizada há mais de 80 anos. E nem era o Carnaval propriamente dito, ainda. Apenas uma quinta-feira de fogo!
Ao fundo, à esquerda da foto, a Praça General João Neiva, em Jaguaribe, de onde partiu a Marcha Democrática.

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.