O poeta Caixa D’Água foi uma das figuras mais emblemáticas das noites de João Pessoa, destacadamente nas décadas de 1960 e 1970. Na época da Bambu, o périplo era menos corrido, pois bastava chegar à churrascaria para encontrar meio mundo de gente. Aliás, Caixa sofreu muito com a derrubada da Bambu, assistindo à queda, da calçada da Lagoa, pedra por pedra, haste por haste de bambu.
Derrubado o famoso bar-restaurante, Caixa passou a cumprir roteiros, em sua vida noctívaga, que ia do Luzeirinho, em Jaguaribe, passando pelo Pietros e Flor da Paraíba, na Lagoa, até, quando a coragem dava, o Paraibambu. O Tabajara, já no fim da noite, era imprescindível. Mas, então, ele já se aproximava da Ladeira da Borborema, onde morava, numa transversal, e para onde deveria se dirigir aos primeiros sinais da manhã.
“O poeta não tem dinheiro”, assim explicava ao sentar-se em alguma mesa para saborear uma cerveja, sua única bebida. E não adiantava querer pagar outra que não fosse cerveja! Caixa D’Água não aceitava, mas de jeito nenhum! Encarava, mesmo, como afronta. “Calhordas!”, atacava, enraivecido, ao menor constrangimento que lhe fosse causado nessas noitadas.
“Se minha mãe se abruma, se o mar geme, se os mortos não voltam mais…” O “se abruma” era negócio de mãe mesmo, justificava quando era questionado. Com versos assim Caixa brindava seus convivas noites adentro. Nos tempos de José Américo e Renato Ribeiro Coutinho, quando ambos, assim como Caixa D’Água, só andavam de terno branco, o poeta apresentava sua diferença: “aqui na Paraíba, só quem anda de branco sou eu, Renato Ribeiro e Zé Américo; só que eu e Zé Américo somos intelectuais e Renato, não”.
Mais tarde, no governo Geisel, ele acrescentou: “os três homens mais importantes do Brasil sou eu, Geisel e Gilberto Gil”. Pense numa mistura! A verdade é que o nosso poeta era muito querido de Gilberto Gil. Sílvio me disse ter Gil lhe contado que em um de seus shows pelo Brasil afora havia até estabelecido um diálogo imaginário com Caixa D’Água. De acordo com Silvio Osias, também o pranteado compositor Gonzaguinha havia se tornado fã de Caixa D’Água.
Foi sepultado com a carteira da Associação Paraibana de Imprensa. Ele era um apaixonado pela entidade, justamente onde seu corpo foi velado. E não foi apenas Gilberto Gil a lamentar a morte de Caixa assim que lhe foi comunicada por Silvio Osias. Os da noite pessoense, também.
(A foto é do repórter fotográfico e poeta da imagem, Antônio David)
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba