Há figuras humanas que vieram ao mundo para o protagonismo, ainda que tenham nascido para o infortúnio, e efetivamente vivido nele. Numa sociedade repleta de gente convicta que é imortal e, por isso, metida a cavalo do cão, cheia de preconceito, nosso personagem existiu preto e pobre. Pobre é pouco: paupérrimo. Estou falando sobre Jacaré, o da foto que ilustra a matéria. No entanto, o inconformismo – mesmo que, no caso em tela, impotente para mudar-lhe a sorte – orientou-lhe a vida. Assim, apegado a essa inconformidade com o destino, se empenhou em não passar despercebido pela existência

. E não passou, tanto que estou falando dele, agora. De vez em quando, desembarcava em Brasília e por lá demorava com a ajuda de amigos. Tinha um apego danado pelo Congresso Nacional, onde transitava com desenvoltura. Ele se sentia bem junto à bancada federal da Paraíba. “JORNALISTA!”, gritava de qualquer ponto do Congresso logo que me via na cobertura diária dos trabalhos parlamentares. E sempre me pedia algum. Normal, era um necessitado crônico. Mantinha uma paixão pelo esporte, além da política, com destaque para o Botafogo, seja o de João Pessoa ou o do Rio de Janeiro. (Nesse ponto, meu companheiro de sofrimento!).

Tão torcedor que sua figura haverá de ser bem mais lembrada com boné e camisa botafoguenses (mais do Belo que do Botafogo carioca). Morreu vitimado pela Covid em 2021, num hospital da Grande João Pessoa. Desde o seu desparecimento o Almeidão – mas, também, o Satyrão, em Campina Grande, onde, afoito como sempre, costumava acompanhar o Botinha Veneno em pelejas homéricas com os times do Treze e do Campinense, históricos rivais do Belo – certamente sentem a falta de Jacaré. Enfim, se autoridade fosse, mandaria erguer uma estátua de Jacaré de preferência nas proximidades do Almeidão. Isso pela necessidade de João Pessoa conservar suas figuras mais icônicas e genuínas, que acabaram desempenhando papel significativo na formação da essência da cidade.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba