Quem passa pela rua Treze de Maio, na capital paraibana, e vê abandonado o prédio de número 465, não tem a menor ideia do que ele já representou. Basta dizer que quando da ida do homem à lua, em 1969, a instituição que nele pontificava fez parte de corrente científica importante ao sucesso da empreitada. Na época, com apenas dois anos de funcionamento, no interior do prédio um observatório astronômico vivia à espreita do céu. Dessa maneira, passou a fazer parte da rede convocada internacionalmente pela Nasa para vigiar o nosso satélite. Especialmente no que diz respeito aos fenômenos naturais e corriqueiros que ao redor dele (do corpo celeste) acontecem.
O equipamento, que ainda se encontra trancafiado no edifício de três andares, pertence à Fundação Padre Ibiapina, e foi montado na Paraíba por iniciativa do famoso educador Afonso Pereira, natural de Bonito de Santa Fé, no Sertão paraibano. No momento da instalação do observatório, Afonso Pereira presidia a instituição, na Paraíba, que homenageia uma figura histórica de muita importância para o estado e para o Nordeste. Nesse sentido, convém falar um pouco do Padre Ibiapina e suas relações com a Paraíba. Nascido em 1806, na cidade cearense de Sobral, antes de falecer em 1883, na cidade paraibana de Solânea, José Antônio de Maria Ibiapina fez muita coisa pelo Nordeste. O maior destaque fica por conta da fundação de Casas de Caridade (destinadas a acolhimento e formação de meninas pobres e órfãs), além da construção de açudes, cemitérios, cacimbas e igrejas. No ano de 1866, Ibiapina chegou à região de Solânea decidido a fundar mais uma Casa de Caridade. Foi então que o major Antônio José da Cunha, dono de muitas terras no atual distrito de Santa Fé, doou parte delas ao Padre Ibiapina, que construiu inicialmente um hospital destinado a pessoas infectadas pela cólera. Mas que virou uma das casas de caridade mais ativas entre as instituídas pelo padre cearense.
O detalhe: tratava-se da própria casa grande do engenho do major Antônio, incluída, portanto, nas doações. Em virtude de suas andanças, contadas às centenas de quilômetros, pelo interior nordestino, o Padre Ibiapina viu-se preso a uma rústica cadeira de rodas, quando não à cama, na parte final de sua vida. Faleceu em Santa Fé onde seu corpo foi sepultado, e posteriormente edificado o muito distinguido Santuário de Padre Ibiapina, local de profusas manifestações de fé e, por isso, especial para o turismo religioso. Nesse particular, os peregrinos e curiosos cumprem roteiros intitulados Caminhos de Padre Ibiapina, saindo de Guarabira, passando por Pirpirituba, Bananeiras e findando em Solânea, no Santuário, segundo informações da atuante Ana Gondim, useira e vezeira em participar da organização dessas trilhas. Em Bananeiras a Diocese de Guarabira mantém o Recanto Padre Ibiapina, destinado a padres. Quanto ao observatório pessoense, da fundação que leva o nome do padre, objeto um dia de muita curiosidade de minha parte e da juventude de então, se encontra há cerca de 50 anos inativo, sem qualquer solução para o descaso.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba