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PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Fogo em posto de gasolina da 1817 - Por Sérgio Botêlho

Exatamente na hora que assistia a um filme (“55 dias em Pequim”, estreado em 1963, com Charlton Heston e Ava Gardner, segundo João Batista de Brito, que também assistia à película, naquele instante, me lembrou outro dia) no Cine Plaza, à tarde, de repente interromperam a sessão, acenderam as luzes e mandaram evacuar a sala.

A foto foi postada no Facebook por João Batista de Brito

Exatamente na hora que assistia a um filme (“55 dias em Pequim”, estreado em 1963, com Charlton Heston e Ava Gardner, segundo João Batista de Brito, que também assistia à película, naquele instante, me lembrou outro dia) no Cine Plaza, à tarde, de repente interromperam a sessão, acenderam as luzes e mandaram evacuar a sala. O filme, retratando o Cerco das Legações estrangeiras durante a Rebelião dos Boxers, camponeses chineses revoltados com o Ocidente, capturava perfeitamente o gosto da época, no sentido de muita ação. Ao chegar lá fora, o quadro era parecido, quase de guerra. Havia fogo em um posto de gasolina, na Praça 1817, ali perto, cujo proprietário se chamava Roberto Pessoa, entre o prédio de A União (atual Assembleia Legislativa) e o do Banco do Brasil (ainda no mesmo lugar).

O fogo teve início quando um caminhão de abastecimento de gasolina pegou fogo, num acidente que poderia ter resultado em consequências catastróficas. Porém o que realmente capturou a atenção de todos foi a coragem incomum do motorista conhecido como Sivuca. É que ele tomou decisão arriscada, mas ao fim e ao cabo salvadora. Assumindo o volante em meio às chamas, conduziu o caminhão incendiado pela 1817, entrou na Padre Meira e, em uma manobra quase suicida, dirigiu até o Parque Solon de Lucena e então, em uma última manobra de grande risco, mergulhou o caminhão de ré nas águas da Lagoa. É que o fogo existia justamente na parte posterior do veículo.

Passou até mesmo em frente a outro posto de gasolina, localizado defronte à Igreja das Mercês. A repercussão do evento foi imensa. Rádios e jornais de João Pessoa debateram intensamente sobre a segurança de manter postos de gasolina em áreas densamente povoadas. Surgiram rumores e preocupações sobre tanques subterrâneos de gasolina e os riscos associados. O debate acabou impulsionando uma revisão das normas de segurança e localização desses estabelecimentos.

O flagrante explorado pelas fotos era do caminhão de combustível mergulhado nas águas da Lagoa, imagem dramaticamente reveladora da coragem daquele cidadão que, depois disso, ainda dirigiu carro de praça na nossa capital. Singular e dramático, o episódio ficou inscrito não apenas nas páginas dos jornais, mas também na memória coletiva da capital paraibana. Para os que o vivenciaram, permanecerá como lembrança indelével de perigo, coragem e, em certo grau, de transformação.

 

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba